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Ela é fortalecida pela fé

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Confiança

Ela é fortalecida pela fé



Levemos mais longe este estudo.

Que força soberana fortifica a esperança a ponto de torná-la inabalável aos assaltos da adversidade?... A fé!

A alma confiante guarda na memória as promessas do Pai celeste; medita-as profundamente. Sabe que Deus não pode faltar à palavra, e daí a sua imperturbável certeza. Se o perigo a ameaça, a envolve, a domina mesmo, ela conserva sempre a serenidade. Apesar da iminência do risco, repete a palavra do Salmista: “O Senhor é a minha luz e a minha salvação... que posso recear? O Senhor protege minha vida... quem me fará tremer?...”

Existem entre a fé e a confiança relações estreitas, laços íntimos de parentesco. Empregando a expressão de um teólogo moderno, deve-se achar na fé “a causa e a raiz” da confiança. Ora, quanto mais se afunda a raiz na terra, mais seiva nutriente dela tira; mais vigorosa crescerá a haste; mais opulenta será a floração. Assim, a nossa confiança desenvolve-se na medida em que se aprofunda em nós a fé.

Os Livros Santos reconhecem a relação que une essas duas virtudes. Não são designadas pelo mesmo vocábulo “fides”, uma e outra, sob a pena dos escritores sagrados?


(Livro da Confiança, Padre Thomas de Saint-Laurent)

Para divulgação: Instituto Nossa Senhora do Rosário.

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Capela do Santo Rosário, Anápolis/GO
Esta congregação feminina é – segundo o Padre Jahir Britto, fundador da Familia Beatae Mariae Virginis, – a “versão feminina” da FBMV, com o diferencial de que 1- não são monjas e, 2- são voltadas particularmente para a educação da infância, em especial de meninas.
O fundador, o padre Fernando, até onde sei, amigo de muitos anos do padre Jahir, superior dos monges da Bahia, certamente criou uma obra de grande serventia para a formação destas futuras cristãs: tanto que a obra, para socorrer outros lugares com católicos tradicionais, já não está presente apenas em Anápolis, mas já tem uma fundação em Nova Friburgo/RJ: o colégio São Bento e Santa Escolástica.
Interior da Igreja do Santo Rosário, Anápolis/GO
Interior da Igreja do Santo Rosário, Anápolis/GO
Em busca de maiores detalhes para escrever esta matéria, fui ao site da FSSPX-Brasil, e percebi que o Instituto das irmãs rosarianas já não se encontra mais entre as suas comunidades amigas, e se ligarmos o fato de que as mesmas estão unidas aos beneditinos de Nova Friburgo no auxílio às almas locais, então me parece possível concluir que todas as comunidades religiosas amigas da FSSPX no Brasil romperam com a mesma, depois do espetáculo de deposição de armas de D. Fellay e da expulsão de Monsenhor Williamson.
É realmente uma pena, mas diante do liberalismo conciliar as posições devem ser claras, e é por falta de clareza que chegamos onde estamos. Mas Deus proverá! Não pretendo divagar mais sobre o assunto: voltemos ao tema!
Faltam-me dados precisos, mas segundo o blog Pale Ideas, até outubro de 2012 o instituto era composto por 27 religiosas, sendo 20 em Anápolis, vinculadas ao Colégio São José, e as demais em Nova Friburgo, atendendo numa escolinha vizinha do Mosteiro de Santa Cruz. No Colégio São José há por volta de 90 alunas. É uma escola localizada na zona rural, com bem razoável infra-estrutura e uma grande capela.
Enquanto isso, na jovem fundação de Nova Friburgo, os trabalhos de construção ainda avançam, devagar e sempre…
Colégio São Bento e Santa Escolástica, Nova Friburgo/RJ
Colégio São Bento e Santa Escolástica, Nova Friburgo/RJ
Ao que parece, faz parte dos projetos do fundador a construção de um internato para meninos em Anápolis. Em Nova Friburgo, ao que parece, o colégio é misto.
Mas além da função social e de formação religiosa, o grande destaque que se deve dar às irmãs é a reza diária do Rosário, assim como fazem os monges Marianos da Bahia.
Que a obra cresça segundo a vontade de Nosso Senhor. Que cresça de maneira discreta, humilde, e que cresçam em santidade todos os envolvidos: pais, alunos, benfeitores, o padre, as irmãs e as professoras graduadas externas.
É uma obra pia, não deixem de contribuir, segundo suas possibilidades. Deixo aqui algumas fotografias que encontrei no site do Mosteiro de Santa Cruz de Nova Firburgo/RJ e no blog Pale Ideas. Vale igualmente a pena passar a vista numa crônica de uma visita do padre Cardozo ao local.
Mais fotografias abaixo:
Padre Fernando
Padre Fernando
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Alunos de Nova Friburgo
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Procissão no colégio São José
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As irmãs e as alunas no ginásio do colégio São José
Transporte escolar do colégio São José
Transporte escolar do colégio São José

O Espírito da Cruz

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Está página é extraída do Boletim de Nossa Senhora da santa Esperança, de Março de 1903 (reeditada em Le Sel de la Terre, no. 44, consagrado ao padre Emmanuel). O Padre Emmanuel pronunciou o seu último sermão na festa da Exaltação da Santa Cruz, no Domingo, 14 de Setembro de 1902, seis meses antes de morrer. Trata do espírito da Cruz, que é “a participação do próprio espírito de Nosso Senhor, levando a Cruz, pregado à Cruz e morrendo na Cruz”. 
O ESPÍRITO DA CRUZ
O último sermão do Padre Emmanuel
Irmãos, há muito tempo que não me vedes aqui; não venho aqui com freqüência.
Vou falar-vos de uma coisa da qual nunca falei, nem aqui, nem algures. E essa coisa desejo-a a todos; sei bem que o meu desejo não chegará a todos. Vou falar-vos do espírito da Cruz.
Quando o Bom Deus cria um corpo humano, dá-lhe uma alma, é um espírito humano; quando o Bom Deus dá a uma alma a graça do batismo, ela tem o espírito Cristão.
O espírito da Cruz é uma graça de Deus. Há a graça que faz apóstolos, e assim por diante. O que é o espírito da Cruz?
O espírito da Cruz é uma participação do próprio espírito de Nosso Senhor levando a Sua Cruz, pregado à Cruz, morrendo na Cruz. Nosso Senhor amava a Sua Cruz, desejava-a. Que pensava Ele levando a Sua Cruz, morrendo na Cruz? Há aí grandes mistérios: quando se tem o espírito da Cruz, entra-se na inteligência destes mistérios. Existem poucos Cristãos com o espírito da Cruz, vêm-se as coisas de modo diferente do comum dos homens.O espírito da Cruz ensina a paciência; ensina a amar o sofrimento, a fazer sacrifícios.
Quando se tem o espírito da Cruz, é-se paciente, ama-se o sofrimento, fazem-se generosamente os sacrifícios que o Bom Deus nos pede. Quer-se a vontade de Deus, e ama-Se; acha-se bom o que nos pede.
Os santos queixavam-se muito a Deus que Ele não lhes dava bastante sofrimento; desejavam sofrer, por que? Porque no sofrimento se pareciam mais com Nosso Senhor. Na vida de Santa Isabel da Hungria, é dito que, depois de a terem despojado de todos os seus bens, ainda a expulsaram de casa: quando viu que nada mais possuía, foi aos Frades Menores mandar cantar um Te Deum para agradecer a Deus por lhe ter tirado tudo. Tinha o espírito da Cruz.
Imitação diz alguma coisa do que faz o espírito da Cruz: ama mais ter menos do que mais, ama mais estar em baixo do que em cima. Ama ser desprezado. É isto o espírito da Cruz; é muito raro.
Não o tendes muito, o espírito da Cruz. Posso bem dizer-vo-lo, há muito tempo que vos conheço, desde que estou convosco. Tende-lo menos do que o tivestes outrora.
Logo que tendes algum sofrimento, depressa dizeis: Meu Deus, livrai-me disto, livrai-me disto; fazeis novenas para vos libertardes. É preciso amar um pouco mais o sofrimento, e não pedir tão depressa para se ver livre dele. Se tivésseis o espírito da Cruz, veríamos muitas coisas que não vemos; e há as que vemos, que talvez não víssemos.
É preciso ter um pouco mais do espírito da Cruz; é preciso pedi-lo. Tratemos de amar a Cruz, de amar a vontade de Deus.
Talvez vos tenha enfastiado ao falar-vos assim, mas não vos aborreço mais.
Fonte:

Maria: Causa Exemplar

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Depois de Jesus, Maria é o mais belo modelo que é possível imitar: o Espírito Santo que, em virtude dos merecimentos de seu Filho, nela vivia, fez dela uma cópia viva das virtudes desse Filho: «Haec est imago Christi perfectissima, quam ad vivum depinxit Spiritus Sanctus». Jamais cometeu a mínima falta, a mínima resistência à graça, executando à letra o fiat mihi secundum verbum tuum (Adolph Tanquerey).

Diz S. Tomás, que enquanto os demais santos sobressaíam, cada um em alguma virtude particular, foi a Bem-aventurada Virgem extraordinária em todas e de todas nos foi dada como modelo. Para mostrarmos nosso amor a Maria, esforçamo-nos em imitá-la:
  

 "Eis uma Virgem, que com sua virtude, 
feriu e arrebatou o coração de Deus." 
-S. Bernardino de Sena.




  • Os Santos Padres, em particular Santo Ambrósio e o Papa São Libério, representam-na como o modelo acabado de todas as virtudes,  «caritativa e atenciosa para com todas as suas companheiras, sempre pronta a lhes prestar serviço, não dizendo nem fazendo nada que lhes pudesse causar o mínimo desgosto, amando-as a todas e de todas amada»
  • Sobre ela diz S. João DamascenoPlantada na casa de Deus, esta bela oliveira regada pelo Espírito Santo se fez habitação de todas as virtudes. O semblante da Virgem era modesto, o ânimo humilde, as palavras amorosas, saindo de um interior bem composto. A Virgem afastou o pensamento de todas as coisas terrenas, abraçando todas as virtudes; admirável e rápido foi o progresso na perfeição, e assim mereceu tornar-se um digno templo de Deus.
  • Fala também S. Anselmo da vida de Nossa Senhora e dizMaria era dócil, pouco falava, estava sempre composta, sempre séria, e sem jamais se perturbar. Perseverança na oração, na leitura dos Livros Santos, nos jejuns, em toda sorte, enfim, de obras virtuosas. 
  • Boaventura Baduário refere coisas mais particularesMaria procurava ser a primeira nas vigílias, a mais exata na divina Lei, a mais profunda na humildade, e em toda a virtude a mais perfeita. Ninguém jamais a viu irada; pelo contrário tão repassadas de doçura lhe eram as palavras, que se reconhecia o Espírito Santo em sua boca. 
  • Especial atenção merecem as revelações de S. Brígida: Desde pequenina foi ela cheia do Espírito Santo, e à medida que crescia em idade, aumentava também em graça. Desde então estabeleceu amar a Deus de todo coração, de modo a não ofendê-lo nunca em palavras ou ações. Por isso desprezava os bens da terra, dando aos pobres tudo quanto podia. De tal temperança usava no comer, que só tomava quanto lhe era absolutamente necessário para o sustento do corpo. Ciente pela Sagrada Escritura de que Deus devia nascer de uma virgem, para salvar o mundo, abrasou-se de tal forma o seu espírito no amor divino, que não pensava senão em Deus, não desejava senão Deus e só em Deus se comprazia. Evitava, por isso, até o trato com seus pais, para que a não distraíssem da memória de Deus. Sobretudo desejava alcançar a vinda do Messias, na esperança de ser a serva daquela feliz Virgem, que merecesse ser sua Mãe.
  • Exclama Santo Afonso Maria de LigórioAh! certamente por amor desta excelsa menina acelerou o Redentor sua vinda ao mundo. Enquanto Maria em sua humildade nem se julgava digna de ser a serva da Divina Mãe, foi ela mesma a eleita para essa sublime dignidade. Com a fragrância de suas virtudes e poderosas súplicas atraiu ao seu seio virginal o Filho de Deus. 
  • O Senhor também mostrou um dia a S. Brígida duas mulheres: uma toda luxo e vaidade. Esta - disse Ele - é a Soberba. Sobre a outra, disse: Contempla essa que tem a cabeça baixa, que é serviçal para com todos, pensando em Deus unicamente e convencida de seu nada: é a Humildade e chama-se Maria.
  • É próprio de todo humilde prestar serviços, Maria não se negou a servir Isabel durante três meses. Sobre isto escreve S. Bernardo:Admirou-se Isabel da vinda de Maria, porém mais admirável era ainda o motivo de sua vinda: vinha para servir e não para ser servida.
  • Em suma, diz S. Bernardinoenquanto Maria viveu na terra, estava continuamente amando a Deus; nunca fez, senão o que conhecia ser do agrado de Deus; e amou-o tanto quanto julgou de seu dever amá-lo.
  • Nem mesmo o sono impedia a Mãe de Deus de amar ao seu Criador, diz S. Ambrósio que enquanto o corpo de Maria repousava, sua alma vigiava; e S. Bernardino completa: enquanto seu corpo bem-aventurado tomava, num ligeiro sono, o necessário repouso, sua alma elevava-se até Deus.
“Tais foram as virtudes de Maria que a sua vida pode servir de regra a todas as vidas”
-S. Ambrósio


Fonte:

Da Hediondez do Homossexualismo

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Este vício não é absolutamente comparável a nenhum outro, porque supera a todos em enormidade. Este vício produz, com efeito, a morte dos corpos e a destruição das almas. Polui a carne, extingue a luz da inteligência, expulsa o Espírito Santo do templo do coração do homem, nele introduzindo o diabo que é o instigador da luxúria, conduz ao erro, subtrai totalmente a verdade da alma enganada, prepara armadilhas para os que nele incorrem, obstrui o poço para que daí não saiam os que nele caem, abre-lhes o inferno, fecha-lhes a porta do Céu, torna herdeiro da infernal Babilônia aquele que era cidadão da celeste Jerusalém, transformando-o de estrela do céu em palha para o fogo eterno, arranca o membro da Igreja e o lança no voraz incêndio da geena ardente.

Tal vício busca destruir as muralhas da pátria celeste e tornar redivivos os muros da Sodoma calcinada. Ele, com efeito, viola a temperança, mata a pureza, jugula a castidade, trucida a virgindade, que é irrecuperável, com a espada da mais infame união. Tudo infecta, tudo macula, tudo polui, e tanto quanto está em si, nada deixa puro, nada alheio à imundície, nada limpo. Para os puros, como diz o Apóstolo, todas as coisas são puras; para os impuros e infiéis, nada é puro, mas estão contaminados o seu espírito e a sua consciência (Tit. I, 15).


Esse vício expulsa do coro da assembleia eclesiástica e obriga a unir-se com os energúmenos e com os que trabalham com o diabo, separa a alma de Deus para ligá-la aos demônios. Essa pestilentíssima rainha dos sodomitas torna os que obedecem as leis de sua tirania torpes aos homens e odiáveis a Deus, impõe nefanda guerra contra Deus e obriga a alistar-se na milícia do espírito perverso, separa do consórcio dos Anjos e, privando-a de sua nobreza, impinge à alma infeliz o jugo do seu próprio domínio. Despoja seus sequazes das armas das virtudes e os expõe, para que sejam transpassados, aos dardos de todos os vícios. Humilha na Igreja, condena no fórum, conspurca secretamente, desonra em público, rói a consciência como um verme, queima a carne como o fogo.

Arde a mísera carne com o furor da luxúria, treme a fria inteligência com o rancor da suspeita, e no peito do homem infeliz agita-se um caos como que infernal, sendo ele atormentado por tantos aguilhões da consciência quanto é torturado pelos suplícios das penas. Sim, tão logo a venenosíssima serpente tiver cravado os dentes na alma infeliz, imediatamente fica ela privada de sentidos, desprovida de memória, embota-se o gume de sua inteligência, esquece-se de Deus e até mesmo de si.

Com efeito, essa peste destrói os fundamentos da fé, desfibra as forças da esperança, dissipa os vínculos da caridade, aniquila a justiça, solapa a fortaleza, elimina a esperança, embota o gume da prudência.

E que mais direi, uma vez que ela expulsa do templo do coração humano toda a força das virtudes e aí introduz, como que arrancando as trancas das portas, toda a barbárie dos vícios?

Com efeito, aquele a quem essa atrocíssima besta tenha engolido, entre suas fauces cruentas, impede-lhe, com o peso de suas correntes, a prática de todas as boas obras, precipitando-a em todos os despenhadeiros de sua péssima maldade. Assim, tão logo alguém tenha caído nesse abismo de extrema perdição, torna-se um desterrado da pátria celeste, separa-se do Corpo de Cristo, é confundido pela autoridade de toda a Igreja, condenado pelo juízo de todos os Santos Padres, desprezado entre os homens na terra, reprovado pela sociedade dos cidadãos do Céu, cria para si uma terra de ferro e um céu de bronze. De um lado, não consegue levantar-se, agravado que está pelo peso do seu crime; de outro, não consegue mais ocultar seu mal no esconderijo da ignorância, não pode ser feliz enquanto vive, nem ter esperança quando morre, porque, agora, é obrigado a sofrer o opróbrio da derrisão dos homens e, depois, o tormento da condenação eterna.

(São Pedro Damião, Liber Gomorrhianus, c. XVI)


Fonte: http://www.saopiov.org/2010/02/hediondez-do-homossexualismo-sao-pedro.html#ixzz2bucPOGky  


http://farfalline.blogspot.com.br/

As dores de Nossa Senhora

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Introdução

1.ª Dor - Profecias de Simeão
2.ª Dor - Fuga de Jesus para o Egito
3.ª Perda de Jesus no Templo
4.ª Encontro com Jesus caminhando para a Morte
5.ª Morte de Jesus
6.ª A lançada e a descida da Cruz

7.ª Sepultura de Jesus

***



Resumo histórico

Duas vezes no ano lembra-se a Igreja das Dores de Maria Santíssima: na Sexta-feira que antecede ao domingo de Ramos, e no dia 15 de setembro. Já antes dessas solenidades vinha o povo cristão consagrando terna lembrança às Dores da Mãe de Deus. No século XIII a tendência geral fixa-se na celebração das Sete Dores. A Ordem dos Servitas, principalmente, fundada em 1240, muito contribuiu para propagar essa devoção. Pois seus membros deviam santificar a si e aos outros pela meditação das Dores de Maria e de Seu Filho. Pelos fins do século XV era quase geral no povo cristão o culto compassivo das dores de Maria. Os poetas de vários países consagraram-lhe inúmeras poesias. O hino Stabat Mater dolorosa tem por autor o franciscano Jacopone da Todi (1306). A festa foi primeiramente introduzida pelo Sínodo de Colônia em 1423, sob o título de Comemoração das Angústias e Dores da Bem-aventurada Virgem Maria, para expiação das injúrias cometidas pelos Hussitas contra as imagens sagradas.
Propagou-se rapidamente, tomando o nome de festa de Nossa Senhora da Piedade. Em 1725 introduziu-a o papa Bento XII no Estado Pontifício, e em 1727 estendeu-a para a Igreja universal. 
Mas, porque perdia um pouco de seu valor, por estar na quaresma, Pio VII, em 1804, mandou que fosse celebrada também no terceiro domingo de setembro. Com a reforma do Breviário, por Pio X, veio a festa a ter uma data fixa no dia 15 de setembro

(Nota do tradutor). 

I. MARIA FOI A RAINHA DOS MÁRTIRES POR CAUSA DA DURAÇÃO
E INTENSIDADE DE SUAS DORES

Quem poderia ouvir sem comoção a história mais triste que jamais houve no mundo?
Uma nobre e santa senhora tinha um único filho, o mais amável que se possa imaginar.
Era inocente, virtuoso e belo. Ternamente retribuía o amor de sua mãe. Nunca lhe havia dado o mínimo desgosto, mas sempre lhe havia testemunhado todo respeito, toda obediência, todo afeto. Nele, por isso, a mãe tinha posto todo o seu amor, aqui na terra. Ora, que aconteceu? Pela inveja de seus inimigos, foi esse filho acusado injustamente. O juiz reconheceu, é verdade, a inocência do acusado e proclamou-a publicamente. Mas, para não desgostar os acusadores, condenou-o a uma morte infame, como lhe haviam pedido. E a pobre mãe, para sua maior pena, teve de ver como aquele tão amante e amado filho lhe era barbaramente arrancado: na flor dos anos. Fizeram-no morrer diante de seus olhos maternos, à força de torturas e esvaído em sangue num patíbulo infamante. Que dizeis, piedoso leitor? Não vos excita à compaixão a história dessa aflita mãe? 
Já sabeis de quem estou falando? Esse Filho, tão cruelmente suplicado, foi Jesus, nosso amoroso Redentor. E essa Mãe foi a bem-aventurada Virgem Maria, que por nosso amor se resignou a vê-lO sacrificado à justiça divina pela crueldade dos homens. Portanto é digna de nossa piedade e gratidão essa dor imensa que Maria sofre por nosso amor. Mais Lhe custou sofrê-la, do que suportar mil mortes. E se não podemos corresponder dignamente a tanto amor, demoremo-nos hoje, ao menos por algum tempo, na consideração de Suas acerbíssimas dores. Digo, por isso: Maria é Rainha dos mártires, porque as dores de Seu martírio excederam às dos mártires 1º em duração; 2º em intensidade. 

PONTO PRIMEIRO 
Duração do martírio de Maria

1. Maria é realmente uma mártir 

Jesus é chamado Rei das dores e Rei dos mártires, porque em Sua vida mortal padeceu mais que todos os outros mártires. Assim também é Maria chamada com razão Rainha dos Mártires, visto ter suportado o maior martírio que se possa padecer depois das dores de Seu Filho. Mártir dos mártires é por isso o nome que lhe dá Ricardo de S. Lourenço. E bem lhe pode aplicar o texto do profeta Isaías: Ele te há de coroar com uma coroa de  amargura (22, 18). A coroa, com a qual foi constituída Rainha dos mártires, foi justamente Sua dor tão acerba, que excedeu à de todos os mártires reunidos. É fora de dúvida o real martírio de Maria, como assaz o provam Dionísio Cartuxo, Pelbarto, Catarino e outros. Pois, conforme uma sentença incontestada, para ser mártir é suficiente sofrer uma dor capaz de dar a morte, ainda que em realidade se não venha a morrer. S. João Evangelista é reverenciado como mártir, não tenha embora morrido na caldeira de azeite fervendo, senão haja saído dela mais robustecido, como diz o Breviário. Para a glória do martírio, segundo Tomás, basta que uma pessoa leve a obediência ao ponto de oferecer-se à morte. Maria, no sentir do Abade Oger, foi mártir não pelas mãos dos algozes, mas sim pela acerba dor de Sua alma. Se não lhe foi o corpo dilacerado pelos golpes do algoz, foi Seu bendito coração transpassado pela Paixão de Seu Filho. E essa dor foi suficiente para dar-Lhe não uma, porém mil mortes. 
Vemos por aí que Maria não só foi verdadeiramente mártir, mas que Seu martírio excedeu a todos os outros por sua duração. Pois que foi Sua vida, senão um longo e lento martírio? 

2. Duração do martírio de Maria 

Assim como a Paixão de Jesus começou com Seu nascimento, diz S. Bernardo, também assim sofreu Maria o martírio durante toda a Sua vida por ser em tudo semelhante ao Filho. Como observa S. Alberto Magno, o nome de Maria significa, entre outras coisas, amargura do mar. 
Aplica-lhe o Santo por isso o texto de Jeremias: Grande como o mar é a minha dor (Jr 2, 13). Com efeito, e o mar amargo e salgado. Assim foi também toda a vida de Maria sempre cheia de amarguras, porque não Lhe desaparecia do espírito a lembrança, da Paixão do Redentor. Mais iluminada pelo Espírito Santo que todos os profetas, compreendia melhor do que eles as predições a respeito do Messias, registradas na Escritura. Está isso acima de toda e qualquer dúvida. Assim instruiu um anjo a S. Brígida, e ainda ajuntou que Nossa Senhora sentia terna compaixão com o inocente Salvador, mesmo antes de Lhe ser Mãe. E tudo por causa do conhecimento que possuía sobre as dores a serem suportadas pelo Verbo Divino, para a salvação dos homens, e sobre a cruel morte que O aguardava em vista de nossos pecados. Já então começou, portanto o padecimento de Maria.
Mas sem medida tornou-se essa dor, desde o dia em que a Virgem ficou sendo Mãe de Jesus. Sofreu daí em diante um perene martírio, observa Roberto de Deutz, tendo em vista as dores que esperavam por Seu Filho. E também o que significa a visão de S. Brígida, em Roma, na igreja de S. Maria. Aí lhe apareceu a Santíssima Virgem em companhia de S. Simeão, e de um anjo que trazia uma longa espada a gotejar sangue.
Essa espada era um emblema da mui longa e acerba dor que dilacerou o coração de Maria, durante toda a sua vida. O supra-citado abade põe nos lábios de Maria as seguintes palavras:
Almas remidas, filhas diletas, não vos deveis compadecer de mim,  só por aquela hora em que assisti à morte de meu amado Jesus. Pois a espada, prenunciada por Simeão transpassou minha alma em todos os dias de minha vida. Quando eu aleitava Meu Filho, o aconchegava ao colo, já contemplava a morte cruel que Lhe estava reservada. Considerai por isso que áspera e intensa dor eu devia sofrer! 
Maria, pois, teve razão para dizer com Davi: A minha vida se consome na dor e os meus anos em gemidos (SI 30, 11). A minha dor está sempre ante os meus olhos (SI 37, 18).
Passei toda a Minha vida entre dores e lágrimas, porque a minha dor, que era a compaixão com Meu Filho, nunca se apartava dos Meus olhos. Eu estava sempre contemplando todos os Seus tormentos e a morte que Ele um dia havia de sofrer.
Revelou a Divina Mãe a S. Brígida que, mesmo depois da morte e da ascensão de Seu Filho ao céu, continuava viva e recente em Seu materno coração, a lembrança dos sofrimentos dEle. Acompanhava-A até nos trabalhos e nas refeições. Vulgato Taulero escreve, por isso, que a Virgem passou toda a Sua vida em perpétua dor, carregando no coração luto e pesar. 

3. O tempo não mitigou os sofrimentos de Maria 

O tempo, que costuma mitigar a dor dos aflitos, não pôde aliviá-la em Maria. Aumentava-Lhe, pelo contrário, a aflição. Crescendo, ia Jesus mostrando cada vez mais a Sua beleza e amabilidade. Mas de outro lado ia também se avizinhando da morte.
Com isso cada vez mais a dor por haver de perdê-lO apertava também o coração da Mãe. Tal como a rosa que cresce por entre espinhos, crescia a Mãe de Deus em anos no maior dos sofrimentos. E como crescem os espinhos à medida que a rosa desabrocha, cresceram também em Maria - rosa mística do Senhor - os penetrantes espinhos das aflições. 
Passemos agora à consideração da intensidade das dores de Nossa Senhora. 

PONTO SEGUNDO 
Intensidade do martírio de Maria

Maria é Rainha dos mártires 
                         
Pois entre todos os martírios foi o Seu o mais longo e também o mais doloroso. Quem lhe poderá medir jamais a extensão? Ao considerar o sofrimento dessa Mãe dolorosa, não sabia Jeremias a quem compará-lA. Pois não exclama: A quem te compararei? Porque é grande como o mar o teu desfalecimento. Quem te remediou? (Jr 2, 13).
"O Virgem bendita, como a amargura do mar excede todas as amarguras, assim Vossa dor excede todas as outras dores", - desta forma explica Hugo de S. Vítor o citado texto. Na opinião de Eádmero, a dor de Maria era suficiente para causar-Lhe a morte a cada instante, se Deus não Lhe tivesse conservado a vida por um singular milagre. E S. Bernardino de Sena chega a dizer que a intensidade de Seu sofrimento tão aniquiladora foi, que, dividida por todos os homens, bastaria para fazê-los morrer todos, repentinamente. 

1- Os mártires sofreram tormentos no corpo, Maria sofreu-os na alma 

Vejamos, contudo as razões por que o martírio de Maria foi mais doloroso que o de todos, os mártires. Devemos refletir, em primeiro lugar, que, estes sofreram em seus corpos por meio do fogo e do ferro enquanto a Virgem padeceu o martírio na alma. Nesse sentido lhe dissera Simeão: E uma espada transpassará até a tua alma (Lc 2, 35).
O santo ancião queria dizer: Ó Virgem sacrossanta, os outros mártires hão de ter o corpo ferido pela espada, porém vós tereis a alma transpassada e dilacerada pela Paixão de Vosso Filho. Quanto a alma é mais nobre que o corpo, tanto a dor de Maria foi superior à de todos os mártires. Não são as dores da alma comparáveis aos tormentos do corpo, disse o Senhor a S. Catarina de Sena. 
Por isso, escreve Amoldo de Chartres: Por ocasião do grande sacrifício do Cordeiro imaculado, que morria por nós na cruz, poderíamos ter visto dois altares: um no Calvário, no corpo de Jesus, outro no Coração de Maria. Enquanto que o Filho sacrificava Seu corpo pela morte, Maria sacrificava Sua alma pela compaixão.

2- Os mártires sofreram imolando a própria vida, enquanto Mana sofreu oferecendo a vida de Seu Filho.

A estas palavras dá S. Antonino por motivo: Maria amava a vida do Filho muito mais que a própria vida. Sofreu por isso no espírito tudo o que no corpo padeceu o Filho. Mais ainda. Seu coração afligiu-se mais presenciando os tormentos do Filho, do que se Ela própria os tivesse sofrido em Si. Semdúvida alguma a Virgem padeceu em Seu coração todos os suplícios com que viu atormentado o Seu amado Jesus. Sabem todos que as penas dos filhos são também penas das mães que os vêem sofrer. 
Quanto suplício de espírito não suportou a mãe dos Macabeus, à vista do martírio dos seus sete filhos! Isto considera S. Agostinho e diz: Vendo-os, sofreu com todos; amava-os a todos e por isso Só em vê-los sentiu o que eles experimentaram no corpo. Deu-se o mesmo com Maria. Todos os tormentos, açoites, espinhos, cravos e a cruz afligiram, juntamente com o corpo de Jesus, o coração de Maria para lhe consumar o martírio. O que Jesus suportou na Sua carne, em Seu coração o suportou a Mãe, comenta o Beato Amadeu. Este tornou-se, pois, como que um espelho, diz; S. Lourenço Justiniano. As pancadas, as chagas, os ultrajes, e tudo mais que sofreu Jesus, se via refletido nesse espelho. Segundo S. Boaventura, as mesmas chagas que estavam espalhadas pelo corpo de Jesus, se achavam todas reunidas no coração de Maria. Assim a Virgem, por Sua compaixão para com o Filho, em Seu terno coração foi flagelada, coroada de espinhos, carregada de opróbrios, pregada à cruz. Às citadas palavras que nos descrevem a Mãe no Calvário, segue-se a pergunta do suposto S. Boaventura:
Dizei-me, Senhora; onde estáveis então? Porventura junto da cruz, apenas? Não; melhor posso dizer que estáveis na própria cruz, crucificada juntamente com Vosso Filho. Com Isaías diz o Redentor: Eu calquei o lagar sozinho e das gentes não se acha homem comigo (63, 3). Sobre isto observa, Ricardo de S. Lourenço:
Senhor, tínheis razão de dizer que padecestes sozinho, quando da Redenção do gênero humano, e que nenhum homem tivestes compadecido de Vós. Porém, uma mulher, Vossa Mãe, sofreu em Seu coração tudo quando sofrestes em Vosso corpo. 

Mas tudo isso ainda é dizer pouco sobre as dores de Maria. Como já se disse, a Santíssima Virgem mais sofreu à vista de Seu atormentado e querido Jesus, do que se pessoalmente houvesse suportado os tormentos e a morte do Filho. Erasmo, falando dos pais em geral, diz: Mais do que as próprias, sentem os pais as dores dos filhos. Nem sempre isso é verdade. Mas certamente o era em Maria, porque amou imensamente mais a Seu Filho e a vida dEle, que a si mesma e as mil vidas que tivera. É bem acertada por isso a observação do Beato Amadeu, ao dizer que Maria, diante das dolorosas penas de Seu amado Jesus, padeceu muito mais do que se tivesse sofrido toda a Sua Paixão. E é clara a razão de tudo. Pois não está a alma humana mais com aquilo que ama, do que com aquilo que anima? E não afirmou o próprio Salvador: Onde está o vosso tesouro, aí estará o vosso coração? (Lc 12, 34). 
Assim, pois, Maria, se pelo amor vivia mais no Filho do que em Si mesma, ao vê-lO morrer tinha de suportar dores incomparavelmente mais acerbas; do que se A fizessem sofrer a morte mais cruel do mundo.  

3. Os mártires sofreram consoladosMaria padeceu sem consolo.        
           
Há ainda uma circunstância a mostrar-nos como o martírio de Maria excedeu incomparavelmente ao dos mártires todos. Não só Ela sofreu dores indizíveis, como também as sofreu sem alívio algum, na Paixão de Seu Filho. Padeciam os mártires os tormentos a que os condenavam maus tiranos, porém o amor de Jesus lhes tomava as dores amáveis e suaves. Quanto não sofreu um S. Vicente, por exemplo!
Atormentaram-no sobre um cavalete descamando-o com unhas de ferro, com lâminas candentes o queimaram também. Entretanto, dele que vemos e ouvimos? S. Agostinho nos diz: Parecia ser um a sofrer e outro a falar. Com tal fortaleza de ânimo e tal desprezo dos tormentos falou o mártir ao tirano, que parecia ser um Vicente que sofria, e outro que falava. Tanta lhe era a doçura do amor com que Deus o confortava naquelas torturas! Dolorosos suplícios teve de suportar também um S. Bonifácio.
Picaram-no, meteram-lhe pontinhas de ferro debaixo das unhas, entornaram-lhe pela boca chumbo derretido. Mas o Santo repetia sem cessar: Eu vos dou graças, Senhor Jesus Cristo.
Horrivelmente sofreram igualmente um S. Marcos e S. Marcelino, com os pés pregados numa estaca. Disse-lhes então o tirano: Miseráveis, retratai-vos e sereis livres dessas penas! - Mas de que penas falais? Nunca passamos tempo tão delicioso como este, em que estamos sofrendo voluntariamente por amor de Jesus Cristo, responderam-lhe os santos. Um S. Lourenço, enquanto assava sobre uma grelha, sofria horrores. Mas a chama interior do amor divino, diz S. Leão, era mais poderosa para consolar-lhe a alma, que o fogo externo para lhe atormentar o corpo. Tal era o ânimo que lhe comunicava esse amor, que o Santo chegava a desafiar o tirano, dizendo: Queres comer minha carne? Anda depressa; já de um lado está assada, Vira e come! Ah! responde S. Agostinho, é que ele estava embriagado com o vinho do amor divino, e por isso não sentia os tormentos nem a morte. Quanto mais os santos mártires amavam, pois, a Jesus, menos sentiam os tormentos e a morte. Bastava-lhes a lembrança dos sofrimentos de um Deus crucificado para consolá-lo. Podia, porém, nossa Mãe dolorosa achar consolo no amor a Seu Filho e na lembrança de Seus sofrimentos? Não; justamente esse padecimento era todo o motivo de sua maior dor. Único e crudelíssimo algoz Lhe foi tão somente o amor que consagrava ao Filho. Todo o martírio de Maria consistiu em vê-lO, amado e inocente, sofrer tanto, e em compadecer-se de Suas dores. Tanto mais acerba e sem alívio lhe era a dor, quanto mais O amava. Grande como o maré a tua dor e quem te curará? (Jr 2, 13).
Ah! Rainha dos céus, aos outros mártires o amor mitigou as penas e pensou as feridas. A Vós, porém, quem suavizou jamais a grande aflição? Quem curou jamais as chagas doloríssimas de Vosso coração? O Filho que Vos podia dar consolo era a causa única de Vosso penar, e o amor que Lhe tínheis constituía todo o Vosso martírio. Cada um com o instrumento de seu martírio, representam-se os mártires: S. Paulo com a espada; S. André com a cruz; S. Lourenço com a grelha. No entanto Maria é representada com o Filho morto, nos braços. Só Jesus foi o instrumento de seu martírio, por causa do amor que Lhe consagrava. Ricardo de S. Vítor reduz tudo isso à concisa sentença: Nos mártires o amor era um consolo nos sofrimentos, em Maria, pelo contrário, cresciam as penas e o martírio na proporção de Seu amor. É certo que; quanto mais se ama uma pessoa, tanto mais se sente a pena de perdê-la. A morte de um irmão, de um filho, aflige mais, certamente, que a de um amigo. Cornélio a Lápide diz, por isso: Para medir a dor de Maria pela morte do Filho, é preciso ponderar a grandeza do amor que Lhe devotava.
Mas quem poderá medi-lo? Era duplo o amor de Jesus no coração de Maria, observa o Beato Amadeu: um sobrenatural, com que O amava como a Seu Deus, e natural o outro, com que O estremecia como Filho. Esse duplo amor reuniu-se num só, imenso e incalculável amor, a ponto de Guilherme de Paris ousar dizer: Tanto era o amor da Santíssima Virgem a Jesus, que uma pura criatura não seria capaz de amá-lO mais. Ora, conclui Ricardo de S. Vítor, como o amor de Maria não comporta comparações, também não as comporta a Sua dor. Imenso era o amor da Senhora a Seu Filho e também incalculável devia ser a Sua pena ao perdê-lO, observa S. Alberto Magno. 
Imaginemos que a Mãe de Deus, junto ao Filho moribundo na cruz, nos dirige as palavras de Jeremias: Ó vós todos que passais pelo caminho, atendei e vede se há dor semelhante à minha dor (Jr 1, 12). Ó vós que viveis na terra, e não vos compadeceis de Mim, parai um pouco a contemplar-Me neste momento em que estou vendo morrer Meu Filho diletíssimo. Vede em seguida se, entre todos os aflitos e atormentados, há dor semelhante à Minha dor. 
Não há, nem pode haver mais amarga tortura do que a Vossa, diz o Ofício das Dores de Maria; pois nunca houve no mundo Filho mais amável que o Vosso.  
Também S. Lourenço Justiniano afirma: Não houve jamais Filho mais amável que Jesus, nem mãe alguma mais amante que Maria. Se, pois, nunca houve na terra amor semelhante ao de Maria, como poderia haver então sofrimento semelhante ao Seu?
Eis por que um escritor não hesita em apresentar como testemunho de S. Ildefonso esta sentença: Ainda é pouco dizer que as dores da Virgem excedem aos tormentos, mesmo reunidos, de todos os mártires. Eádmero acrescenta que os suplícios mais cruéis infligidos aos santos mártires foram leves e como que nada, em comparação ao martírio de Maria. No mesmo sentido escreve S. Basílio de Seleucia: À semelhança do sol que ofusca o esplendor de todos os outros planetas, o sofrimento de Maria fez desaparecer o de todos os mártires. O douto Pinamonti conclui com este belíssimo pensamento: Tamanha foi a dor que essa Mãe sofreu na Paixão de Jesus, que só essa dor foi compaixão digna da morte de um Deus. 
S. Boaventura, dirigindo-se à Bem-aventurada Virgem, pergunta: Quisestes, Senhora minha, ser também imolada no Calvário? Para remir-nos não bastava porventura um Deus crucificado? E por que então quisestes também Vós, sua Mãe, ser igualmente crucificada? Certamente bastava a morte de Jesus para a redenção do mundo, e até de uma infinidade de mundos. Amando-nos, porém, quis essa boa Mãe concorrer de Sua parte para nossa redenção com o merecimento de Suas dores, suportadas por nós no Calvário. De onde as palavras de S. Alberto Magno: Somos obrigados a Jesus pela Paixão que sofreu por nosso amor, mas o somos também a Maria pelo martírio que, na morte do Filho, quis sofrer espontaneamente pela nossa salvação.
Espontaneamente o fez, pois um anjo revelou a S. Brígida que nossa tão compassiva e benigna Mãe preferiu sofrer todas as penas, a ver as almas privadas de redenção e entregues à antiga miséria.
Pode-se até dizer, com Simeão de Cássia, que o único consolo de Maria, no meio da acerbíssima dor pela Paixão de Jesus, era pensar no mundo resgatado e ver reconciliados com Deus os homens inimizados outrora com Ele.

4- Maria recompensa a veneração de Suas dores 
             
Tão grande amor de Maria bem merece toda a nossa gratidão. Mostremo-lA ao menos pela meditação e compaixão de Suas dores. Queixou-Se, por isso, a Virgem Santíssima a S. Brígida que muito poucos são os que dEla se compadecem: sendo que a maior parte dos homens vivem esquecidos de Suas aflições. Recomendou-lhe em seguida, com muita insistência, que delas guardasse contínua memória. Quanto é agradável a Maria essa meditação de suas dores podemos deduzi-lo da aparição com que contemplou em 1239 aqueles 7 devotos seus, fundadores da Ordem dos Servitas.
Apresentou-Se-lhes tendo nas mãos um hábito negro, ordenou-lhes meditassem com freqüência e amor em Suas dores, e que em memória delas vestissem aquela lúgubre roupeta. O próprio Jesus Cristo revelou a S. Verônica de Binasco que Ele mais Se agrada em ver meditados os sofrimentos de Maria, que contemplados os Seus próprios.
Filha, disse o Senhor, caras Me são as lágrimas derramadas sobre Minha Paixão; mas, como amo imensamente a Minha Mãe, ainda Me é mais cara a meditação das dores que Ela padeceu, vendo-Me morrer. Assim é que Jesus prometeu graças extraordinárias aos devotos das dores de Maria. Pelbarto refere-nos a seguinte revelação de S. Isabel a esse respeito. S. João Evangelista, depois da Assunção da Senhora, muito desejava revê-lA. Obteve com efeito essa graça e sua Mãe querida apareceu-lhe em companhia de Jesus Cristo. Ouviu em seguida Maria pedir ao Filho algumas graças especiais para os devotos de Suas dores, e Jesus prometer quatro principais graças. Ei-las:

1.º- Esses devotos terão a graça de fazer verdadeira penitência por todos os seus pecados, antes da morte;
2.º Jesus guardá-los-á em todas as tribulações em que acharem, especialmente na hora da morte;
3.º Ele lhes imprimirá no coração a memória de Sua Paixão, dando-lhes depois um prêmio especial no céu;
4.º por fim os deixará nas mãos de Sua Mãe para que deles disponha a Seu agrado, e lhes obtenha todos e quaisquer favores. 

Comprovando tudo isso, leia-se o exemplo seguinte que mostra quanto é útil à salvação eterna venerar as dores de Maria.   

Sta.Teresa inflamada de amor
EXEMPLO

Lê-se nas Revelações de S. Brígida que havia um senhor tão nobre pelo nascimento como vil e depravado pelos costumes. Fizera pacto expresso com o demônio, a quem havia servido como escravo durante sessenta anos seguidos, sem se aproximar dos sacramentos, e levando a pior vida que se pode imaginar. 
Ora, estando para morrer esse fidalgo, Jesus Cristo, para usar com ele de misericórdia, ordenou a S. Brígida que pedisse a seu diretor espiritual que o fosse visitar e exortar a confessar-se. O padre foi, mas o doente respondeu que já se tinha confessado muitas vezes, não necessitando mais de confissão. Foi segunda vez, porém o infeliz escravo do inferno obstinou-se na sua impenitência. Jesus de novo disse à Santa que o padre não devia desanimar. Este voltou terceira vez e referiu ao doente a revelação feita à Santa, dizendo-lhe que tinha voltado por ordem do Senhor, o qual queria usar de misericórdia em seu favor. Isto ouvindo, o infeliz começou a enternecer-se e a chorar.
Mas como, (exclamou em seguida), poderei ser perdoado? Durante sessenta anos servi ao demônio, e dele me fiz escravo, e tenho a alma tão carregada de inúmeros pecados! - Filho, respondeu-lhe o padre, animando-o, não duvides; se te arrependeres, prometo-te o perdão em nome de Deus. Começando então a ter confiança, disse o infeliz ao confessor: Meu Pai, eu me julgava condenado e desesperava da minha salvação; mas agora sinto uma dor de meus pecados, que me anima a ter confiança. Com efeito, confessou-se no mesmo dia quatro vezes, com muita contrição. No dia seguinte comungou, e morreu seis dias depois, muito contrito e resignado. Depois de sua morte, Jesus Cristo falou de novo a S. Brígida e disse-lhe que aquele pecador se tinha salvado, que estava no purgatório, e devia a salvação à intercessão da Virgem, sua Mãe, pois apesar da vida perversa que levara, tinha conservado a devoção às Suas dores, recordando-as sempre com compaixão. 

ORAÇÃO

Ó minha Mãe dolorosa, Rainha dos mártires e das dores, chorastes tanto Vosso Filho, morto por minha salvação; mas de que me servirão Vossas lágrimas, se eu me perder? Pelos merecimentos, pois, de Vossas dores, impetrai-me uma verdadeira emenda de vida, com uma perpétua e terna compaixão de Jesus e Vossas dores. E já que Jesus e Vós sendo inocentes, tanto padecestes por mim, obtende-me que eu, réu do inferno, padeça também alguma coisa por amor de Vós. Digo-Vos com S. Boaventura:
“Ó minha Senhora, se eu Vos magoei, feri e enternecei meu coração, para castigar-me; se eu Vos tenho servido, fazei-o então em recompensa disso. Considero uma vergonha me ver sem chagas quando Vós e Jesus estais feridos por meu amor".
Finalmente, ó minha Mãe, ainda um pedido. Pela aflição que sentistes vendo diante de Vossos olhos Vosso Filho, entre tantos tormentos, inclinar a cabeça e expirar na cruz, suplico-Vos que me alcanceis uma boa morte. Ah! não me abandoneis na última hora, ó advogada dos pecadores. Não deixeis de assistir minha alma aflita e combatida, na terrível e inevitável passagem da vida à eternidade. E como é possível que eu perca então a palavra e a voz, para invocar Vosso nome e o de Jesus, que sois toda a minha esperança, invoco-Vos desde já, a Vosso Filho e a Vós, pedindo-Vos que me socorrais no instante final, e dizendo: Jesus e Maria, a Vós recomendo a minha alma. Amém. 



(Glórias de Maria por Santo Afonso de Maria de Ligório) 

Fonte:

Primeira dor - Profecias de Simeão

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Neste vale de lágrimas o homem nasce para chorar. Deve padecer e suportar os males que lhe sobrevêm cada dia. Entretanto, muito mais infeliz seria a vida se cada um soubesse os males futuros que o esperam. Desgraçadíssimo seria aquele a quem tocasse tal sorte, disse Sêneca. Usando de misericórdia conosco, oculta-nos o Senhor as cruzes vindouras. Quer que só uma vez as padeçamos, à hora e momento certos. Não usou entretanto da mesma compaixão com Maria. Destinara-A para ser a Rainha dos mártires e em tudo semelhante a Seu Filho. Devia por isso sofrer continuamente e ter sempre diante dos olhos as penas que A esperavam. E elas eram a Paixão e morte de Seu amado Filho. 

1. Nas palavras de Simeão reconhece Maria, os pormenores da Paixão de Jesus 

Eis que S. Simeão recebe em seus braços o Menino-Deus, e prediz a Maria que aquele Filho seria o objeto das contradições e perseguições dos homens. "Eis aqui está posto este Menino como alvo a que atirará a contradição: e uma espada de dor transpassará até a tua alma" (Lc 2, 34). 

Disse a Virgem a S. Matilde que a esse vaticínio se Lhe mudou toda alegria em tristeza. Efetivamente, como foi revelado a S. Teresa, a bendita Mãe sabia dos sacrifícios que Seu Filho devia fazer da vida para a salvação do mundo. Mas naquele momento, de um modo mais particular e distinto, conheceu as penas e a cruel morte, reservadas a Seu pobre Filho no futuro. Conheceu, então, que o havia de contradizer, e contradizer em tudo: em Sua doutrina, porque, em vez de nEle crerem, O haviam de condenar como blasfemador, por ter dado testemunho da divindade. Pois não disse o ímpio Caifás: Ele blasfemou contra Deus; é réu de morte? (Mt 26,65). Contradizê-lO na hora e na estima, porque, apesar de Sua nobre e real estirpe, O desprezaram como vilão: Porventura não é ele o Filho do carpinteiro? Não é sua mãe essa, que é chamada Maria? (Mt 63, 55). Sendo Ele a própria Sabedoria, foi tratado como ignorante: Como sabe este as letras, não tendo aprendido? (Jo 7, 15). Foi escarnecido como falso profeta: E vendavam-Lhe os olhos, davam-Lhe na face, O interrogavam, dizendo: Adivinha quem foi que te deu? (Lc 22,64). 

Chamavam-nO de louco. Muitos diziam: Perdeu o juízo; por que o estais ouvindo? (Jo 10, 20). Disseram-nO ébrio, glutão, amigo dos vinhos: Eis o homem, glutão, que bebe vinho e faz amizades com publicanos e pecadores (Lc 7, 34). 

Espalharam que era feiticeiro: É pelo príncipe dos demônios que ele expulsa demônios (Mt 10, 34);que era herege e endemoninhado: Não dizemos nós bem que tu és samaritano e que tens um demônio? (Jo 8, 48, 52). Em suma Jesus foi apontado por celerado tão notório, que nem se precisava processo para condená-lO. Pois não disseram os judeus a Pilatos: Se este não fosse malfeitor, não to entregaríamos! (Jo 18,30). Sofreu também contradição na alma. Até o Eterno Pai para satisfazer a justiça divina O contrariou, desatendendo-Lhe o pedido: "Meu Pai, se é possível, passe de mim este cálice" (Mt 26, 39). No excesso de Seu sofrimento, chegou a suar sangue. Contradisseram e perseguiram-nO, enfim, no corpo e na alma. Basta dizer que foi Ele martirizado em todos os Seus membros sagrados: nas mãos, nos pés, no rosto, na cabeça, em todo o corpo, e finalmente morreu consumido pelas dores, já sem sangue e coberto de opróbrios, sobre um madeiro infame. 

2. Maria sofre; sempre à vista de Seu Filho 

O profeta Natã comunicou a Davi o castigo pelo pecado cometido: Morrerá certamente o filho que te nasceu (2 Rs 12, 14). Desde então, não pode o rei já encontrar descanso no meio de todas as delícias e grandezas reais. 

Chorou, jejuou e deitou-se na terra nua. Maria, pelo contrário recebeu com suma paz a profecia sobre a morte do Filho, e continuou a sofrer sempre em paz. Mas, vendo sempre diante dos olhos aquele amável Filho, que dor padeceria então continuamente! Não O ouvia sempre pronunciar as palavras da vida eterna? Não era contínua testemunha da santidade de todos Os seus atos? 

Grande foi o tormento de Abraão durante os três dias de jornada para o monte Mória, com seu amado Isaac, ciente de que ia perdê-lo. Entretanto, ó Deus! não três dias, mas trinta e três anos, sofreu Maria pena semelhante. Semelhante, digo? Não; tanto maior quanto mais amável era o Seu Filho, que o de Abraão. Maria revelou a S. Brígida não ter vivido um momento na terra, em que não fosse dilacerada por essa dor. Sempre que via Meu Filho, disse a Virgem, sempre que O vestia, que Lhe olhava as mãozinhas e os pés, abismava-se novamente Minha alma no sofrimento, porque Me lembrava da Paixão que O aguardava. 

O abade Roberto contempla a Mãe, aleitando o Filho e dizendo-lhe: O meu amado é para mim como um ramalhete de mirra (Ct 1,12). Ah! Filho meu, aperto-te em meus braços, porque és muito querido. Porém quanto mais me és querido, mais te tornas para mim um ramalhete de mirra e de dores, ao lembrar-me de tuas penas.

Considerava a Senhora, diz S. Bernardino, como Seu Filho, a fortaleza dos santos, seria reduzido à agonia; sendo a beleza do paraíso, ficaria desfigurado; sendo Senhor do mundo, seria preso como réu; sendo Criador do universo, estaria coberto de chagas; sendo Juiz dos juízes, sofreria, condenação; sendo glória do céu, ouviria desprezos; sendo Rei dos reis, levaria uma coroa de espinhos e um irrisório manto de rei de comédia. 

Apoiando-se numa revelação de S. Brígida, diz o Padre Engelgrave, jesuíta, que a aflita Mãe sabia de todos os pormenores das penas preparadas a Seu Filho. Ao dar-Lhe de beber, pensava no vinagre e fel que Lhe haviam de oferecer. Ao envolvê-lO em faixas, já em mente ante via as cordas de Sua prisão. Ao carregá-lO nos braços, recordava a cruz de Sua crucificação. Ao vê-lO dormindo, lembrava-Se do sono da morte que O esperava. "Cada vez que vestia a túnica ao Meu Filho, disse a Virgem a S. Brígida, pensava que um dia lha arrancariam violentamente para crucificá-lO. Quando Lhe contemplava as mãos e os pés, parecia-Me ver os cravos, que os haviam de transpassar. E isso contemplando, aljofravam lágrimas aos Meus olhos e acerba dor invadia-Me a alma". 

3. A dor de Maria; aumentou com a crescente amabilidade do Filho 

De Jesus afirma o Evangelho que, como em anos, ia crescendo também em graça, diante de Deus e dos homens. "E Jesus crescia em sabedoria e em idade e em graça, diante de Deus e dos homens" (Lc 2,52). Crescia em graça e sabedoria perante os homens, isto é, na opinião deles. Perante Deus, porém, neste sentido o explica S. Tomás: As ações de Jesus teriam servido para Lhe aumentar cada vez mais o mérito, se a plenitude da consumada graça não Lhe tivesse sido conferida desde o princípio, em razão da união hipostática. Ora, se Jesus crescia em estima e amor para os homens, quanto mais então para Sua Mãe Santíssima! Mas, ah! com o aumento do amor, mais aumentava também a dor, à só lembrança de perder esse Filho por uma tão cruel morte. E quanto mais se avizinhava o tempo da Paixão, mais cruelmente a espada, predita por Simeão, atravessava o coração materno de Maria. Assim o revelou o anjo a S. Brígida.

Se, pois, Jesus e Sua Mãe Santíssima não recusaram sofrer por nosso amor pena tão atroz, durante a vida toda, não é justo que nos queixemos em nossos pequenos padecimentos. Jesus Crucificado apareceu, certa vez; a Sóror Madalena Orsini, dominicana, experimentada, havia muito tempo, pela tribulação. Animou-a a ficar com Ele na cruz, suportando aquele sofrimento. Mas ela respondeu; Senhor, só penastes na cruz três horas e eu já sofro há muitos anos. Então o Redentor replicou: Mas como falas com ignorância! Desde o primeiro instante em que fui concebido, sofri no coração tudo quanto depois, ao morrer, padeci na cruz. Quando, pois, sofrermos qualquer tribulação e quisermos nos queixar, imaginemos que Jesus e Maria nos dão a mesma resposta. 

EXEMPLO

Narra o Padre Roviglione, da Companhia de Jesus, que certo jovem tinha a devoção de visitar todos os dias uma imagem da Senhora das Dores, cujo peito era transpassado por sete espadas. Uma noite teve ele a infelicidade de cair em pecado mortal. No dia seguinte, indo visitar a imagem da Virgem, viu-lhe no peito oito espadas em lugar de sete. Enquanto contemplava o prodígio, ouviu uma voz interna que lhe disse que seu pecado tinha transpassado com mais uma espada o coração de Maria. 

Isso muito o enterneceu e foi logo confessar-se com grande contrição e pela intercessão de sua advogada recuperou a graça divina. 

ORAÇÃO

Ó minha bendita Mãe, não só uma espada, porém tantas quantas foram os meus pecados, tenho eu acrescentado ao Vosso coração. Não a Vós, que sois inocente, minha Senhora, mas a mim, réu de tantos delitos, são devidas as penas. Já que contudo quisestes sofrer tanto por meu amor, impetrai-me pelos Vossos merecimentos uma grande dor de minhas culpas, e a paciência necessária para sofrer os trabalhos desta vida. Por maiores que sejam, sempre serão leves em comparação dos castigos que tenho merecido, e de meus pecados, que me têm tornado tantas vezes digno do inferno. Amém.

(Glórias de Maria - Santo Afonso Maria de Ligório)

Fonte:

Segunda dor - Fuga de Jesus para o Egito

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1. O próprio Jesus é espada de dor para Sua Mãe 

Ferida pelo caçador, aonde vai, leva a corça consigo a sua dor: carregando no corpo a seta cruel. Assim também Maria, depois do funesto vaticínio de S. Simeão levou conSigo a dor, que consistia na contínua memória da Paixão do Filho. Algrino aqui aplica o texto dos Sagrados Cânticos: Os cabelos de tua cabeça são como a púrpura do rei, que é atada em dobras (7, 8). Essa cabeleira cor de púrpura simboliza a constante contemplação da Paixão de Jesus. A Virgem a tinha tão viva diante dos olhos, como se já estivesse vendo o sangue a correr das chagas dEle. Era assim Jesus a espada que atravessava o coração de Maria. 
E, a medida que Ele Lhe parecia mais amável mais profundamente a feria a dor por ter de perdê-lO um dia. 
Consideremos agora a segunda espada de dor que feriu o coração de nossa Mãe, quando fugiu para o Egito, a fim de livrar o Menino-Deus da perseguição de Herodes. 

2. A ordem de fugir 

Mal ouviu Herodes que era nascido o Messias esperado, temeu loucamente que o recém-nascido lhe quisesse usurpar o trono. S. Fulgêncio de Ruspe censura-lhe a loucura, dizendo: Por que estás inquieto, Herodes? Esse rei, nascido agora, não vem para vencer os reis em combate. Não; ele vem para subjugá-los de um modo admirável, morrendo por eles. Esperava, pois, o ímpio rei lhe viessem os santos Magos revelar. o lugar do nascimento do real Menino, a fim de tirar-Lhe a vida. Vendo-se, contudo logrado, ordenou a morte de todos os meninos que então se achavam em Belém e seus arredores. Foi então que o anjo apareceu em sonhos a José com a ordem: Levanta-te, toma o Menino e Sua mãe, e foge para o Egito (Mt 2, .13). 
Segundo o parecer de Gerson, S. José avisou a Maria na mesma noite, e tomando ambos o, Menino Jesus, puseram-se a caminho. É isso o que se deduz das palavras do Evangelho: "E levantando-se, José tomou consigo, ainda noite, o Menino e Sua Mãe e retirou-se para o Egito". Ó Deus, disse então Maria (como contempla S. Alberto Magno), assim deve fugir dos homens aquele que veio para salvá-los? Logo conheceu a aflita Mãe como já começava a verificar-se no Filho a profecia de Simeão: Eis aqui está posto este Menino como alvo a que atirará a contradição (Lc 2, 34). Viu que, apenas nascido, já O perseguiam e queriam matar. "Que pesar para o coração de Maria, escreve S. Pedro Crisólogo, ao ouvir a intimação do cruel exílio ao qual Ela e o Filho eram condenados! 
Foge dos teus para os estranhos, do templo do verdadeiro Deus para a terra dos ídolos! Há lástima que se compare à de uma criança que, apenas nascida, já se vê obrigada a fugir, levada nos braços de sua Mãe?

3. Incômodos da fugida

Bem, pode cada qual adivinhar o que padeceu Maria nessa viagem. Da Judéia ao Egito era muito longe a jornada. Com Sebastião Barradas, fala-se, geralmente, em mais de cem horas de caminho. Por isso a viagem durou pelo menos trinta dias. Além disso, como descreve Boaventura Barrádio, era o caminho desconhecido e péssimo, cortado de carrascais e pouco freqüentado. Estava-se no inverno e a Sagrada Família teve de viajar debaixo de aguaceiros, neves e ventos, por estradas alagadas e lamacentas. Quinze anos tinha então Maria; era uma donzela delicada, nada afeita a semelhantes viagens.
Finalmente não tinham os fugitivos quem lhes servisse. José e Maria, na frase de S. Pedro Crisólogo, não tinham nem criados nem criadas; eram senhores e criados ao mesmo tempo. Meu Deus! como excita a compaixão ver essa tenra virgenzinha, com esse Menino recém-nascido ao colo, fugindo por este mundo! Boaventura Baduário pergunta: Aonde iam comer e dormir? em que hospedagem ficariam? Qual podia ser o alimento deles, senão um pedaço de pão duro trazido por S. José ou recebido como esmola? Onde hão de ter dormido durante a viagem, especialmente durante as 50 horas da travessia do deserto, sem casas e hospedarias? Onde, senão sobre a areia ou debaixo de alguma árvore do bosque, ao relento, expostos aos ladrões e às feras, tão abundantes no Egito? Oh! quem encontrasse então esses três grandes personagens, tê-los-ia certamente tomado por ciganos e mendigos. 

4. A pobreza da Sagrada Família no Egito

No Egito Maria habitou em um lugar chamado Matarieh, conforme afirmam Burcardo de Saxônia e Jansênio Gandense, embora Strabo diga que moravam na cidade de Heliópolis*. Aí sofreram extrema pobreza, durante os sete anos que permaneceram escondidos, segundo S. Antonino e S. Tomás e outros autores. Eram estrangeiros, desconhecidos, sem rendimentos, sem dinheiro e sem parentes. A muito custo conseguiam sustentar-se com o fruto de suas fadigas. Por serem pobres, escreve S. Basílio, era-lhes bem penoso conseguir o indispensável para passar a vida. Ludolfo de Saxônia dá conta - e sirva isso de consolo aos pobres, - que tal era a pobreza de Maria, que muitas vezes nem tinha um pedaço de pão para o Filho, quando, obrigado pela fome, Lhe pedia algum. 
Morto Herodes, de novo apareceu em sonhos o anjo a José, ordenando-lhe que voltasse à Judéia. Aqui, descreve Boaventura Baduário a aflição da Santíssima Virgem pelo muito que sofreu Jesus durante o regresso. Tinha Ele então sete anos, sendo grande demais para os braços de Maria, e ainda pequeno para vencer a pé tão longas estradas. 

* Era Matarieh um subúrbio de Heliópolis e não deve ser trocado pela cidade de Mênfis, nem pela atual Cairo. – (Nota do tradutor).

5. Imitação da Sagrada Família pela paciência e desprendimento 

Jesus e Maria passaram pelo mundo como fugitivos. Eis aí uma lição para nós.
Temos de viver na terra como peregrinos, sem apegos aos bens que o mundo nos oferece. Pois depressa teremos de deixá-los para passarmos à eternidade. "Não temos aqui cidade permanente, mas procuramos a futura" (Hb 13, 14). És um hóspede neste mundo; apenas o vês de passagem, acrescenta S. Agostinho. Aprendamos com Jesus e Maria a abraçar as cruzes, porque sem elas não podemos viver neste mundo. Neste sentido foi concedido à venerável Verônica de Binasco, agostiniana, acompanhar, numa visão, a viagem de Maria e do Menino Deus para o Egito. No fim da jornada disse-lhe a Mãe de Deus: Filha, viste com que trabalho chegamos a esta terra. Fica sabendo que ninguém recebe graças sem ter padecido. - Quem, entretanto desejar sentir menos os trabalhos desta vida, deve levar em sua companhia a Jesus e Maria. 
"Toma o Menino e Sua Mãe", disse o anjo a S. José. Àquele que traz com amor a esse Filho e a essa Mãe em seu coração, tornam-se leves e até suaves e agradáveis todas as penas. Amemo-lOs, portanto; consolemos Maria, acolhendo em nosso coração a Seu Filho, que hoje ainda continua a ser perseguido pelos pecados dos homens. 

EXEMPLO 

Um dia apareceu Nossa Senhora à venerável Coleta, religiosa franciscana, e mostrou-lhe o Menino Deus todo chagado, dizendo-lhe então: Vê, assim é que os pecadores tratam continuamente meu Filho; renovam-Lhe Sua morte e Minhas dores. Reza muito, minha filha, reza por eles para que se convertam. Semelhante visão teve Sóror Joana de Jesus e de Maria. Meditando na perseguição feita ao Menino Deus por Herodes, ouviu um ruído, como se gente armada andasse perseguindo alguém. Viu em seguida um menino muito formoso que, completamente esgotado, buscava refúgio junto dela. Joana - disse-lhe o Menino - ajuda-me a esconder-me; estou fugindo dos pecadores, que, como Herodes, me perseguem e querem matar. 

ORAÇÃO

Assim, pois, ó Maria, nem depois de Vosso Filho ter sido imolado pelos homens, que O perseguiram até à morte, cessaram esses ingratos de persegui-lO com seus pecados, e de afligir-Vos, ó Mãe dolorosa? E eu mesmo, ó meu Deus, não tenho sido um desses ingratos? Ah! minha Mãe dulcíssima, impetrai-me lágrimas para chorar tanta ingratidão. E pelas muitas penas que sofrestes na viagem para o Egito, assisti-me com Vosso auxílio na viagem que estou fazendo para a eternidade, afim de que possa um dia ir amar conVosco meu Salvador perseguido, na pátria dos bem-aventurados. Amém. 

(Glórias de Maria por Santo Afonso Maria de Ligório)

Fonte:

07 de Outubro - Nossa Senhora do Rosário

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Em todo o Portugal, e fora de Portugal, como no Brasil, tem criado fortes raízes a devoção a Nossa Senhora de Fátima. É relativamente nova a devoção. Seu início muito de semelhante tem a de Nosso Senhora de Lourdes. Como em Lourdes Nossa Senhora se dignou de se comunicar à menina Bernadete Soubirous, hoje Santa canonizada pela Igreja, Maria Santíssima em Fátima apareceu, (no ano de 1917) por diversas vezes às três crianças Lúcia de Jesus dos Santos e seus primos Francisco e Jacinta Marto. Entre Lúcia e a Aparição estabeleceu-se diálogo da duração de dez minutos. Jacinta via a Aparição e ouvia-lhe as palavras dirigidas a Lúcia. Francisco via apenas a Aparição, sem, porém, ouvir coisa alguma, apesar de se achar na mesma distância, e possuir ótimo ouvido.
A Aparição era uma donzela formosíssima, que parecia ter dezoito anos de idade, e vinha rodeada de claridade fulgurante, tanto que as crianças, na primeira vez se assustaram e pensaram em fugir. A Aparição, porém, de voz dulcíssima, as tranqüilizou, e assim ficaram. O folheto publicado pelo Visconde de Montelo sobre as aparições diz o seguinte:
“O vestido da Senhora era de uma alvura puríssima de neve, assim como o manto, orlado de ouro que lhe cobria a cabeça e a maior parte do corpo. O rosto, de uma nobreza de linhas irrepreensíveis e que tinha um não sei que de sobrenatural e divino, apresentava-se sereno e grave e como que toldado de uma leve sombra de tristeza. Das mãos, juntas à altura do peito, pendia-lhe, rematado por uma cruz de ouro, um lindo rosário, cujas contas brancas de arminho, pareciam pérolas. De todo o seu vulto, circundado de um esplendor mais brilhante que o sol, irradiavam feixes de luz, especialmente do rosto, de uma formosura impossível de descrever, incomparavelmente superior a qualquer beleza humana.
A Aparição convidou as crianças a voltarem todos os meses no dia treze, durante seis meses consecutivos àquele local, vulgarmente conhecido pelo nome de Cova da Iria, situado a pouco mais de dois quilômetros da igreja paroquial de Fátima.
A princípio ninguém prestava crédito às afirmações das crianças, que eram apodadas de mentirosas por toda a gente, mesmo pelas pessoas de suas famílias. A 13 de Junho (dia da 2.a Aparição) umas 50 pessoas acompanharam os videntes, na esperança de presenciarem o que quer que fosse de extraordinário. Nos meses seguintes o concurso de curiosos e devotos aumentou consideravelmente, reunindo-se talvez 5.000 pessoas em Julho, dezoito mil em Agosto e trinta mil em Setembro junto da azinheira sagrada.
No momento em que se verificava a Aparição, inúmeros sinais misteriosos de que muitas pessoas fidedignas dão testemunho, se sucediam uns após outros na atmosfera e no firmamento.
A Aparição recomendou insistentemente que todos fizessem penitência e rezassem o terço do Rosário. Comunicou às crianças um segredo, que não podiam revelar a ninguém, e prometeu-lhes o céu.
Pediu que naquele local se erigisse uma capela em sua honra e declarou, que no dia 13 de Outubro havia de fazer um milagre para que todo o povo acreditasse que ela realmente tinha ali aparecido. Em 13 de Agosto, momentos antes da hora da Aparição, as crianças foram ardilosamente raptadas pelo administrador do Conselho, que as reteve em sua casa durante dois dias, ameaçando-as de morte se não se desdissessem ou pelo menos não revelassem o segredo que a Aparição lhes tinha confiado.
Neste mês a Aparição teve lugar no dia 19, no sítio dos Valinhos, quando as crianças já não pensavam que ela se verificasse senão no mês seguinte.
No dia 13 de Outubro, estando presentes cerca de setenta mil pessoas de todas as classes e condições sociais e de todos os pontos do país, terminado o dialogo entre Lúcia e a Aparição, que lhe declarou ser a Senhora do Rosário, a vidente recomendou aos presentes que olhassem para o sol. O firmamento estava completamente nublado. Chovia torrencialmente.
Como que por encanto rasgaram-se de repente as nuvens, e o sol do zenith apareceu em todo seu resplendor e girou vertiginosamente sobre si mesmo como a mais bela roda de fogo de artifício que se possa imaginar, revestindo sucessivamente todas as cores do arco-íris e projetando feixes de luz de um efeito surpreendente.
Esse espetáculo sublime e incomparável, que se repetiu por três vezes distintas, durou cerca de dez minutos. A multidão imensa, rendida perante a evidência de tamanho prodígio, prostrou-se de joelhos. O Credo, a Ave Maria e o ato de contrição irromperam de todas as bocas e as lágrimas de alegria, de gratidão ou de arrependimento, marejaram todos os olhos.
Toda imprensa, inclusivamente a de grande circulação, se referiu, em termos respeitosos e com bastante desenvolvimento de Fátima. As apreciações desses fatos, mesmo no campo católico não foram unânimes. As afirmações das crianças relativas ao próximo fim da grande guerra européia, contribuíram para essa divergência de opiniões. Mas, apesar disso, de ano para ano, a devoção a Nossa Senhora do Rosário de Fátima aumenta e propaga-se por toda a parte. O concurso de peregrinos é cada vez maior e verifica-se especialmente no dia 13 de cada mês, nos domingos, nos dias consagrados à Santíssima Virgem e, mais do que nunca, no dia 13 de maio, e no dia 13 de outubro de cada ano.
As graças e curas prodigiosas atribuídas à intervenção de Nossa Senhora do Rosário de Fátima não inúmeras. Debalde os representantes da autoridade civil envidaram todos os esforços para pôr termo à torrente caudalosa e incessante das multidões atraídas pela voz humilde de três inocentes pastorinhos. A intolerância e a perseguição tiveram apenas, como sempre, o efeito de tornar mais viva e intensa a fé e a piedade dos crentes. A concorrência dos devotos, vindos de todos os pontos de Portugal, continua a ser cada vez mais numerosa, mais fervente, mais perseverante, e parece não haver forças humanas capazes de lhe por embargo”.
A Igreja deixou-se ficar na maior reserva diante dos acontecimentos de Fátima. O Cardeal-Patriarca de Lisboa. Dom Antônio Mendes Bello (falecido em 4 de agosto de 1929, na idade de 87 anos), só em 26 de junho de 1927, isto é, dez anos depois das aparições, foi a Fátima, onde benzeu a via sacra colocada junto a estrada Leiria a Fátima, muito depois de outros Bispos e Prelados, terem visitado Fátima, por exemplo, o Arcebispo de Matos, o Núncio Apostólico de Lisboa e o Bispo de Funchal. Em 1931 o Episcopado português fez a solene consagração do país a Nossa Senhora do Rosário de Fátima.

Nossa Senhora do Rosário de Fátima, rogai por nós!

Terceira dor - Perda de Jesus no Templo

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 1. Maria perde a venturosa presença de Jesus 

Que nossa perfeição consiste na paciência, é aviso que nos dá o apóstolo S. Tiago. "A paciência efetua uma obra perfeita, para que perfeitos e íntegros sejais, em nada deficientes" (1, 4). Deu-nos o Senhor como um exemplo de perfeição a Virgem Maria. Por conseguinte, A acumulou de padecimentos, para que assim nós pudéssemos nEla admirar e imitar a heróica paciência. Uma das maiores dores de Sua vida foi esta que hoje vamos meditar: a perda de Seu Filho no templo. Quem é cego de nascença, pouco sente a privação da luz do dia. Mas quem já teve vista e gozou da luz, muito sofre vendo-se dela privado pela cegueira. O mesmo se dá com as almas que estão espiritualmente cegas por causa do pó das coisas deste mundo. 
Pouco conhecem a Deus e pouco sentem a pena de não O encontrar. Mas aquele que, iluminado pela luz celeste, foi achado digno de gozar simultaneamente do amor e da presença do Sumo Bem, oh! esse sofre amargamente, quando se vê privado de tudo isso. Por aí meçamos quanto foi dolorosa para Maria essa terceira espada de dor. Estava acostumada à contínua alegria da dulcíssima presença de Seu Jesus, e eis que agora o perde em Jerusalém e dEle se vê longe, durante três dias. Conforme S. Lucas, costumava a bem-aventurada Virgem ir com José, Seu esposo, e com Jesus visitar todos os anos o templo, por ocasião da festa da Páscoa. Foi então que Jesus, já na idade de doze anos, ficou-Se em Jerusalém sem que Maria O percebesse. Julgava-O na companhia de outras pessoas, mas, não O encontrando à tarde do primeiro dia de jornada, depois de haver perguntado por Ele, voltou imediatamente à cidade para procurá-lO. Finalmente, depois de três dias de ansiedade, O encontrou no templo.
Meditemos qual deve ter sido a aflição dessa atribulada Mãe durante esses três dias. Em toda parte perguntava por Ele, com as palavras dos Cânticos: Vós porventura não vistes aquele a quem ama a minha alma? (3, 3). Mas perguntava em vão. Rubem lastimava-se por causa de seu irmão José:O menino não está mais aqui e para onde irei agora? (Gn 37, 30). Exausta de fadiga, sem encontrar Seu amado Filho, com quanto maior ternura Maria tinha de Se lastimar: Meu Jesus não aparece, e eu não sei mais o que fazer para O encontrar; aonde irei, sem o Meu tesouro?       
Das lágrimas que derramou durante esses três dias, podia então dizer o mesmo que Davi dizia das suas: Minhas lágrimas foram para mim o pão, dia e noite; enquanto se me diz todos os dias: Onde está o teu Deus? (Sl 41, 4).
Mui judiciosamente Pelbarto faz observar que a aflita Mãe não dormiu naquelas noites, passando-as em pranto e rogos para que Deus A fizesse achar o Filho. Freqüentemente dirigia-Se ao Filho, diz Vulgato Bernardo, e gemia com as palavras dos Cânticos: Dize-me onde descansas pelo meio-dia, para que eu não ande como uma desnorteada (1,6). Meu Filho, dize-Me onde estás, a fim de que Eu cesse de errar à Tua procura, em vão

2. Grandeza desta dor 

a) pela ausência de Jesus. - Há quem diga que essa dor não só foi uma das maiores, senão que foi a maior e mais acerba de todas as dores na vida de Nossa Senhora. E não falha razão a esse parecer. Em primeiro lugar, Maria nas outras dores tinha Jesus consigo. Padeceu amargamente pela profecia de Simeão no templo. Padeceu na fugida para o Egito, mas sempre com Jesus. Na presente dor, porém, sofreu longe de Jesus e sem saber onde Ele estaria. Desfeita em lágrimas, suspirava por isso com o Salmista: Até a luz dos meus olhos não a tenho (Sl 37, 11). 
Ai de mim! a luz dos meus olhos, o meu caro Jesus, não está comigo, vive longe de mim, e nem sei onde. Pelo amor que tinha a Seu Filho, diz Vulgato Orígenes, essa Mãe Santíssima sofreu mais na perda de Seu Jesus, que qualquer mártir no padecimento da morte. Que longos foram esses três dias para Maria, a quem eles pareciam três séculos. Dias cheios de amarguras, em que nada a podia consolar! Quem me poderá consolar? suspirava com Jeremias. "Por isso eu choro e os meus olhos derramam rios de lágrimas, porque se alongou de mim o consolador" (Jr 1,16). Queixava-Se sempre com Tobias: Que alegria poderei eu ter, eu que sempre estou em trevas, e que não vejo a luz do céu? (5, 12).            

b) Pela ignorância do motivo da ausência. - Razão e finalidade das outras dores compreendia-as a Virgem Maria, sabendo que eram a redenção do mundo e a vontade de Deus. Nesta, porém, ignorava a causa da ausência de Seu Filho. Sofria a Mãe dolorosa vendo-Se privada de Jesus, diz Landspérgio, porque em Sua humildade Se julgava indigna de estar ao lado dEle e tomar conta de um tão grande tesouro.
Pensava talvez: Quem sabe se não O servi como devia? se cometi alguma negligência que tenha motivado a Sua partida? Orígenes escreve: Maria e José receavam que Jesus os tivesse abandonado. Não há, certamente, pena mais cruciante para uma alma amante de Deus, do que o receio de O haver desgostado. Por isso, somente nesta dor é que ouvimos Maria queixar-Se. Tendo achado Jesus, amorosamente Lhe perguntou: Filho, por que fizeste assim conosco? Olha que teu pai e eu te buscamos aflitos! (Lc 2, 48) Essas palavras não encerram censura, como pretendem blasfemamente os hereges. Revelam apenas a intensa dor que a mãe experimentou na ausência do amado Filho. Dionísio Cartuxo também as considera como amorosa queixa e não como censura. 

3. Nosso consolo na aridez espiritual 

Essas penas de nossa Mãe devem primeiramente servir de conforto às almas que se vêem privadas das consolações e da suave presença do Senhor. Chorem, se quiserem, mas chorem com paz e resignação, como Maria chorou a ausência de Seu Filho.
Cobrem ânimo e não temam por isso ter perdido a graça divina. O próprio Deus disse a S. Teresa: Ninguém se perde sem o saber, e ninguém fica enganado sem querer ser enganado. Por apartar-se dos olhos da alma que o ama, não se aparta ainda o Senhor de seu coração. Esconde-se, muitas vezes, para ser procurado com maior amor e mais desejo. Mas quem quiser achar Jesus, precisa procurá-lO não entre os prazeres e as delícias do mundo, porém entre as cruzes e mortificações, como Maria. "Nós te procuramos com aflição". Aprendamos com a Virgem Maria, diz Orígenes, o modo de procurar a Jesus. 

4. Jesus deve ser tudo para nós 

Outro bem fora de Jesus não devemos procurar neste mundo. Jó não era infeliz, quando perdeu tudo quanto possuía na terra: fortuna, filhos, saúde e honras, a ponto de passar de um trono para um monturo. Como sempre, tinha a Deus consigo, e ainda assim era feliz. Perdera os dons de Deus, mas não o perdera, a Deus, escreve S. Agostinho. Verdadeiramente infelizes são aqueles que perderam a Deus. Se Maria se lamentou da perda do Filho, por três dias, quanto mais deveriam os pecadores chorar a perda da graça divina. Pois não lhes diz o Senhor: Não sois o meu povo e eu não quero ser o vosso Deus? (Os 1,9). 
Não é pecado um rompimento entre Deus e a alma? Vossas iniqüidades vos separam de vosso Deus (Is 59, 2). 
Ainda que os pecadores possuíssem todos os bens da terra, tendo perdido a Deus, tudo o mais outra coisa não é que "fumaça e aflição", como confessou Salomão (Pr 1,14). Como é grande a infelicidade desses pobres obcecados! Deles afirma Vulgato Agostinho: Perdem um boi e não deixam de ir procurá-lo; perdem um jumento e não têm repouso. Entretanto descansam, comem e bebem tendo perdido a Deus, o Sumo Bem! 

EXEMPLO 

A Venerável Benvenuta rogou a Nossa Senhora a graça de poder sentir a dor que Ela sentiu, quando perdeu Seu Filho no templo. Apareceu-lhe então a Mãe de Deus, tendo nos braços o Menino Jesus. A vista daquela encantadora criança, caiu Benvenuta em êxtase, mas de repente se viu privada da presença do Menino-Deus. Tamanha dor sentiu então, que invocou a Maria para não morrer de pesar. Depois de três dias apareceu-lhe a Santíssima Virgem e lhe disse: Ouve, minha filha; tua dor não foi uma pequena parcela da Minha, ao perder no templo o meu Filho.

ORAÇÃO 

Ó Virgem bendita, por que assim Vos afligis, buscando o Vosso Filho, como se não soubésseis onde Ele está? Não Vos recordais que está em Vosso coração? Não sabeis que Ele Se compraz entre os lírios? Vós mesma o dissestes: "O meu amado é para mim e eu sou para ele, que se apascenta entre as açucenas" (Ct 2, 16). Vossos pensamentos e afetos, tão humildes, tão puros, tão santos, são outros lírios que convidam o Divino Esposo a habitar em Vós. Ah! Maria, Vós suspirais por Jesus, Vós que não amais senão a Jesus! Eu é que devo suspirar, eu e tantos pecadores que O não amamos, e O temos perdido por nossas ofensas. Minha Mãe amabilíssima, se por minha culpa Vosso Filho ainda não tornou à minha alma, farei que eu O ache de novo. Bem sei que Ele Se faz achar por quem O busca. Mas farei que eu O procure como devo. Vós sois a porta pela qual se chega a Jesus, farei que também eu chegue a Ele por meio de Vós. Amém. 

(Glórias de Maria por Santo Afonso Maria de Ligório)

Fonte:
http://vashonorabile.blogspot.com.br/

Quarta dor - Encontro com Jesus caminhando para a Morte

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1. Como o amor é também o sofrimento de uma mãe 

Para avaliar a grandeza da dor de Maria perdendo Seu Filho pela morte, devemos - na frase de S. Bernardino representar-nos vivamente o amor que a tal Mãe consagrava a tal Filho. Todas as mães sentem como próprias as dores dos filhos. A mulher cananéia, quando pediu ao Senhor lhe livrasse a filha do demônio, disse tão somente: Senhor, tem compaixão de mim; minha filha está atormentada pelo demônio (Mt 15, 22). Que mãe, porém, jamais amou a seu filho, quanto Maria amou a Jesus? Era-Lhe Jesus Filho e Deus ao mesmo tempo. Que viera ao mundo para atear em todos os corações o fogo do amor divino, foi o que o próprio Salvador protestou: Eu vim trazer fogo à terra; e que quero senão que ele se acenda? (Lc 12, 49). 

Ora, de que chamas devia ter Ele abrasado o coração de Sua santa Mãe, tão puro e limpo de todo o afeto mundano? Em suma, como o disse a Santíssima Virgem a S. Brígida, Seu coração, pelo amor, estava unido completamente ao de Seu Divino Filho. Este misto de serva e Mãe, de Filho e Deus, ateou no coração de Maria um incêndio composto de mil incêndios. Porém em mar de dores converteu-se toda essa fogueira de amor, quando chegou a dolorosa Paixão de Jesus. Escreve por isso S. Bernardino:Se ajuntássemos as dores do mundo, não igualariam todas elas às penas da Virgem gloriosa. Segundo a sentença de Ricardo de S. Lourenço, tanto maior foi o Seu sofrimento vendo padecer o Filho, quanto maior Lhe era a ternura com que O amava. E isso especialmente ao encontrá-lO com a cruz às costas, rumo ao Calvário. Vamos contemplar agora essa quarta espada de dor. 

2. Agonia da Virgem no começo da Paixão de seu Filho 

Inundados de lágrimas andavam os olhos de nossa Mãe, ao ver chegar o momento da Paixão e ao notar que faltava pouco tempo para perder o Seu Filho. Um suor frio Lhe cobria o corpo, causado pelo vivo terror que a assaltava à idéia do próximo e doloroso espetáculo. Assim lemos nas revelações de S. Brígida.* 

* A passagem fala propriamente do Salvador. Algum texto mutilado é que levou o santo autor  referi-lo a Nossa Senhora (Nota do tradutor).

Finalmente chegou o dia marcado e Jesus despediu-Se, chorando, de Sua Mãe, antes de ir ao encontro da morte. O Oficio da Compaixão de Maria, que figura entre as obras de S. Boaventura, assim descreve o procedimento da Santíssima Virgem na noite em que foi preso o Salvador: "Passastes em claro a noite, enquanto repousavam os outros". Pela manhã, vieram os discípulos, uns após outros, trazer-Lhe notícias de Jesus, cada qual mais aterradora. Verificaram-se então as palavras de Jeremias:Chorou sem cessar durante a noite, e as suas lágrimas correm pelas faces; não há quem a console entre todos os seus amados (Jr 1, 2). Quem Lhe falava dos maus tratos feitos a Seu Filho, em casa de Caifás. Quem Lhe descrevia os desprezos recebidos no palácio de Herodes. Mas deixo tudo para chegar ao nosso ponto. Finalmente veio João e anunciou a Maria que o iníquio Pilatos tinha condenado Jesus à morte da cruz. De juiz injustíssimo o chamo eu, porque o iníquio condenou o Senhor com os mesmos lábios que Lhe reconheceram a inocência, diz S. Leão Magno. Ah! Mãe dolorosa, disse-Lhe João, já Vosso Filho foi condenado à morte; já O levam para o Calvário carregando Ele mesmo a cruz aos ombros. 

Assim escreveu depois no seu Evangelho: E levando a cruz aos ombros, saiu para aquele lugar que se chama Calvário (Jo 19, 17). Se quereis vê-lO, Senhora, e dar-Lhe o último adeus, vinde comigo à rua por onde deve passar. 

3. Encontro de Maria com Seu Filho 

Partiu Maria com S. João. Da passagem do Filho Lhe faltavam os rastos de sangue pelo caminho, conforme Ela mesma o disse a S. Brígida. Boaventura Baduário fala de um atalho que a Mãe aflita tomou para ficar depois esperando numa esquina pelo Filho atribulado. Aí estava a espera dEle, quando foi reconhecida pelos judeus e deles teve de ouvir injúrias contra Seu amantíssimo Jesus. Talvez tivesse de escutar até motejos contra Si mesma. E ai! que martírio Lhe não causou a vista dos cravos, dos martelos, das cordas, funestos instrumentos da morte do Filho! Em lúgubre desfile, passavam eles diante da Mãe de Jesus. 

De repente, fere Seus ouvidos um estridente som de trombeta; vão ler a sentença de morte lavrada contra Jesus. 

Meu Deus! que espada de dor transpassou então a alma dessa Mãe dolorosa! Mas já desfilaram o arauto, e os instrumentos do martírio, os oficiais da justiça. Maria ergue os olhos e vê ... ó Deus, um homem, na flor dos anos, todo coberto de sangue e de chagas, da cabeça aos pés, coroado de espinhos, carregando às costas um pesado madeiro. Olha-O e quase não O reconhesse mais. Tem de exclamar com Isaías: Vimo-lo, e não tinha parecença do que era (53, 2). As feridas, as contusões e o sangue enegrecido desfiguraram-nO de tal modo, que se lê: Seu rosto se achava como que encoberto e parecia desprezível, por onde nenhum caso fizemos dele (Is 53, 3). No entanto o amor O revelou a Maria. Tendo-O reconhecido, que temor e que amor transpassaram Seu coração matemo! Assim geme S. Pedro de Alcântara em suas meditações: De um lado desejava contemplá-lO, de outro não tinha coragem de olhar para o Seu rosto, tão digno de comiseração

Fitaram-Se, finalmente. Como se lê em S. Brígida, o Filho afastou dos olhos o sangue coalhado que Lhe impedia a vista, então Mãe e Filho fitaram-se! Ó céus, que olhares cheios de dor! Transpassaram, como setas, esses dois corações que tanto se amavam e queriam. Margarida, filha de Tomás Morus, encontrando o pai que era levado ao cadafalso, apenas pode exclamar duas vezes: Meu pai, meu pai! e caiu-lhe aos pés desmaiada. Maria, à vista do Filho que caminhava para o Calvário, não desmaiou. Não era conveniente que a Mãe de Deus perdesse o uso da razão, como diz Suárez. Não morreu, porque o Senhor A reservava para maiores aflições. Embora não morresse, padeceu, entretanto, tormento suficiente para Lhe dar mil mortes.

Queria a Mãe abraçar o Filho, mas os algozes injuriosamente A repeliam, e empurraram para diante o acabrunhado Salvador. E Maria o foi seguindo. - Eis aí a descrição que da cena nos dá um autor sob o nome de S. Anselmo. 

4. Maria segue Jesus até ao Calvário 

Ah! Virgem Santíssima, aonde ides? Ao Calvário? Tereis ânimo de ver pregado à cruz Aquele que é a Vossa vida? Moisés falou como um profeta: E a tua vida estará como suspensa diante de ti (Dt 28, 66). 

Faz S. Lourenço Justiniano dizer a Jesus: Ó minha Mãe, não venhas comigo; aonde vais? aonde pretendes ir? Se Me acompanhares, serás atormentada pelo Meu, e eu pelo Vosso suplício! Entretanto, a amorosa Mãe não quer abandonar a Seu Jesus, embora vê-lO morrer Lhe deva causar acerbíssima dor. Adiante vai o Filho, e atrás segue a Mãe para ser crucificada com Ele, diz Guilherme, abade. 

Escreve S. João Crisóstomo: Até das feras nós nos compadecemos. Víssemos uma leoa acompanhando seus leõezinhos à morte, e mesmo dessa fera teríamos compaixão. E não nos apiedaremos de Maria, que vai seguindo o Cordeiro Imaculado, levado ao suplício? Participemos, pois, de Sua dor; com Ela companharemos Seu Divino Filho, levando pacientemente as cruzes que nos manda o Senhor. Pergunta S. João Crisóstomo por que razão quis Jesus Cristo sofrer sozinho nas outras dores, e somente nesta aceitar que O ajudasse o Cirineu a levar a cruz? E responde: para ensinar-nos que só a cruz de Jesus não bastará para nossa salvação, se não carregamos também a nossa com resignação até à morte. 

EXEMPLO 

Apareceu, um dia, o Salvador a Sóror Diomira, religiosa em Florença, e disse-lhe: Pensa em Mim e ama-Me, que Eu pensarei em ti e te amarei. Apresentou-lhe ao mesmo tempo um ramalhete de flores com uma cruz, querendo-lhe assim significar que as consolações dos santos na terra hão de ser sempre acompanha-das da cruz. A cruz une as almas a Deus. 

S. Jerônimo Emiliano sendo soldado, carregado de vícios, foi encarcerado pelos inimigos numa torre. Aí, movido pelo sofrimento e iluminado por Deus a mudar de vida, recorreu a Maria Santíssima, e com auxílio dEssa divina Mãe começou a viver santamente. Desse modo mereceu a graça de ver um dia, no céu, o lugar de honra que lhe estava preparado por Deus! Foi depois fundador dos Padres Somascos, morreu como um Santo e foi canonizado pela Santa Igreja. 

ORAÇÃO

Ó minha Mãe dolorosa! pelo merecimento da dor que sentistes, vendo Vosso amado Jesus conduzido à morte, impetrai-me a graça de também levar com paciência as cruzes que Deus me envia. Feliz serei, se souber acompanhar-Vos com minha cruz até à morte. Vós e Jesus, que éreis inocentes, carregastes uma cruz tão pesada, e eu, pecador, que tenho merecido o inferno, recusarei carregar a minha? Ah! Virgem imaculada, de Vós espero socorro para sofrer com paciência todas as cruzes. 

Amém. 

(Glórias de Maria por Santo Afonso Maria de Ligório)

Fonte:
http://vashonorabile.blogspot.com.br/

Quinta dor - Morte de Jesus

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1. Maria assistiu à agonia de Seu Filho na cruz 

Aqui temos a contemplar uma nova espécie de martírio. Trata-se de uma Mãe condenada a ver morrer diante de Seus olhos, no meio de bárbaros tormentos, um Filho inocente e diletíssimo. "Estava em pé junto à cruz de Jesus, sua Mãe " (Jo 19,25). É desnecessário dizer outra coisa do martírio de Maria, quer com isso declarar S. João; contemplai-A junto da cruz, ao lado de Seu Filho moribundo e vede se há dor semelhante à Sua dor. 

Demoraremo-nos a considerar essa quinta espada de dor que transpassou o coração de Maria: a morte de Jesus. 

Quando nosso extenuado Redentor chegou ao alto do Calvário, despojaram-nO os algozes de Suas vestes, transpassaram-Lhe as mãos e os pés com cravos, não agudos, mas obtusos (segundo a observação de um autor), para maior aumento de Suas dores, e pregaram-nO à cruz. Tendo-O crucificado, elevaram e fixaram a cruz e O abandonaram à morte. Abandonaram-nO os algozes, mas não O abandonou Maria. Antes ficou mais perto da cruz para Lhe assistir à morte, como Ela mesma revelou a S. Brígida. 

Mas de que servia, ó Senhora minha, irdes presenciar no Calvário a morte de Vosso Filho? pergunta S. Boaventura. Não Vos deveria reter o vexame, já que o opróbrio dEle era também o Vosso, que Lhe éreis a Mãe? Pelo menos não deveria reter-Vos então o horror ao delito de criaturas que crucificavam o Seu próprio Deus? Mas, ah! o Vosso coração não cuidava então da própria, e sim da dor e da morte do Filho querido. Por isso quisestes assisti-lO e acompanhá-lO com Vossa compaixão. Ó Mãe verdadeira, diz o Vulgato Boaventura, ó Mãe amante, que nem o horror da morte pode separar do Filho amado! 

Mas, ó meu Deus, que doloroso espetáculo! Na cruz, agonizando, está o Filho e junto à cruz a Mãe agoniza também, toda compadecida das penas desse Filho. O lastimoso estado em que viu Seu Jesus moribundo na cruz, revelou-o Maria a S. Brígida, dizendo: "Estava Meu Jesus pregado ao madeiro, saturado de tormentos e agonizante. Seus olhos encovados estavam quase cerrados e extintos; os lábios pendentes e aberta a boca; as faces alongadas, afilado o nariz, triste o semblante. Pendia-lhe a cabeça sobre o peito; Seus cabelos estavam negros de sangue, o ventre unido aos rins, os braços e as pernas inteiriçados, e todo o resto do corpo coalhado de chagas e de sangue". 

Todas essas penas de Jesus eram outras tantas chagas no coração de Maria, observa o Pseudo-Jerônimo.

Aquele que então estivesse presente no Calvário, diz Arnoldo de Chartres, veria dois altares onde se consumavam dois grandes sacrifícios: um era o corpo de Jesus, outro era o coração de Maria. Mais me agradam, porém, as palavras de S. Boaventura, declarando que só havia um altar: a cruz do Filho onde a Mãe era sacrificada juntamente com o Cordeiro Divino. Por isso, pergunta-Lhe: "Ó Maria, onde estáveis? Junto à cruz? Ah! com muito maior razão digo que estáveis na mesma cruz, imolando-Vos crucificada com Vosso Filho". O Pseudo-Agostinho assevera: A cruz e os cravos feriram ambos, o Filho e a Mãe; juntamente com o primeiro foi também crucificada a segunda. O que faziam os cravos no corpo de Jesus, prossegue o Vulgato Bernardo, operava o amor no coração de Maria. De modo que, enquanto o Filho sacrificava o corpo, a Mãe sacrificava a alma, como se expressa S. Bernardino.

2. Maria não pode aliviar as penas de Seu Filho

Fogem as mães da presença dos filhos moribundos. 

Quando, porém, uma mãe é obrigada a assistir um filho em agonia, procura dar-lhe todo alívio possível. Ajeita-o na cama, para que fique mais a gosto, e dá-lhe algum refresco. Desse modo a pobrezinha vai disfarçando sua dor. Ah! Mãe de todas a mais aflita! ó Maria, a Vós é imposto assistir Jesus moribundo, mas não Vos é facultado procurar-Lhe alívio algum. 

Maria ouve o Filho dizer que tem sede, sem que Lhe seja permitido dar-Lhe um pouco de água para dessedentá-lO. Pode dizer-Lhe apenas, conforme as palavras de S. Vicente Ferrer: Meu Filho, tenho tão somente a água de minhas lágrimas. Vê como Seu pobre Jesus, pregado àquele leito de dores por três cravos de ferro, não podia achar repouso. Queria abraçá-lO para consolá-lO, e para que ao menos expirasse em Seus braços, mas não o podia fazer. Nota que Seu Filho, mergulhado num mar de angústias, procura quem O conforte, segundo a predição de Isaías: Eu calquei o lagar sozinho... Eu olhei em roda e não havia auxiliar; busquei e não houve quem me ajudasse (63, 3 e 5). Mas que consolação podia Ele achar entre os homens, se todos Lhe eram inimigos? Mesmo pregado na cruz, uns blasfemavam dEle e outros O escarneciam: E os que iam passando blasfemavam dele (Mt 27, 39). Outros Lhe diziam no rosto: Se és Filho de Deus, desce da cruz (27, 40). Desafiavam-nO alguns:Salvou a todos e a si mesmo não se pode salvar... Se é o rei de Israel, desça agora da cruz (27, 42). 

Além disso, a Santíssima Virgem revelou a S. Brígida: "Ouvi alguns dizerem do Meu Filho que era um ladrão; outros, que era um impostor; outros, que ninguém merecia tanto a morte como Ele. Esses insultos eram para Mim espadas de dor". 

O que mais aumentou, contudo, a dor de Maria, na Sua compaixão para com o Filho, foi ouvir-Lhe a queixa: Meu Deus, meu Deus, por que me desamparastes? (Mt 27, 46). Palavras foram essas que nunca mais Me saíram da mente, disse a divina Mãe a S. Brígida. Assim a aflita Mãe via Jesus atormentado por todos os lados. Queria aliviá-lO e não podia fazê-lo. Maior era ainda o sofrimento, ao ver que com Sua presença aumentava a pena do Filho. Daí, pois, a frase do Vulgato Bernardo: "A plenitude das dores do coração de Maria derramou-se como uma torrente no Coração de Jesus. Sim, Jesus na cruz sofria mais pela compaixão de Sua Mãe, que por Suas próprias dores. Junto a cruz estava a Mãe, muda de dor; vivia morrendo, sem poder morrer".

Jesus Cristo, assim refere Passino, revelou à Bem-aventurada Batista Varano de Camerino, que nada O fez sofrer tanto como a comiseração de Sua Mãe ao pé da cruz, e que por isso morreu sem consolação. E conhecendo a bem-aventurada, por uma luz sobrenatural essa dor de Jesus, exclamou: Senhor, não me faleis dessa Vossa pena, que eu não posso mais! 

3. Maria ao pé da cruz. é nossa Mãe espiritual 

Pasmavam as pessoas que então consideravam essa Mãe, diz Simeão Fidato de Cássia, por verem-nA quedar-Se silenciosa, sem uma queixa ou lamento, no meio de tamanha dor. Mas, se os lábios guardavam silêncio, não o guardava contudo o coração. Pois a Virgem não cessava de oferecer à Divina Justiça a vida do Filho pela nossa salvação. Por aí vemos o quanto cooperava pelos Seus sofrimentos para fazer-nos nascer à vida da graça. E se nesse mar de mágoas, que era o coração de Maria, entrou algum alívio, então este único consolo foi certamente o animador pensamento de que, por Suas dores, cooperava para nossa eterna salvação. O próprio Salvador revelou a Santa Brígida: Minha Mãe tornou-Se Mãe de todos no céu e na terra, por Sua compaixão e Seu amor. Com efeito, outro sentido não tinham as palavras com que Jesus Se despediu de Sua Mãe. Como derradeira lembrança deu-nos a Ela por filhos, na pessoa de S. João: Mulher, eis o teu filho (Jo 19,26). Começou desde então a Senhora a exercer para conosco esse ofício de mãe estremecida. 

Atesta S. Pedro Damião (assinala-o Salmeron) que estando por isso Maria entre a cruz do Filho e do bom ladrão, por Suas preces converteu e salvou este último. Assim o recompensou por serviços prestados outrora, quando a Sagrada Família procurava o Egito. Nessa ocasião mostrara-se o bom ladrão prestimoso e afável, conforme contam vários autores. E a Santíssima Virgem continua e continuará sempre a exercer este ofício de Mãe desvelada. 

EXEMPLO 

O Venerável Joaquim Piccolomini, um fervoroso servo de Maria, já em criança, costumava visitar três vezes ao dia uma imagem de Nossa Senhora das Dores. Aos sábados, jejuava em honra da Virgem. Fazia mais. Levantava-se no meio da noite, para meditar sobre as dores de sua Mãe celeste. Vejamos como Maria recompensou o seu servo. Joaquim era ainda moço quando Ela lhe apareceu e o fez entrar na Ordem dos Servitas. 

Outra vez lhe apareceu pelos últimos anos da vida, tendo nas mãos duas coroas. Uma era de rubis como prêmio pela compaixão com os sofrimentos dEla; era de pérolas a outra, em recompensa da virgindade guardada por Joaquim. Pela terceira vez veio vê-lo à hora da morte. O Venerável pediu-Lhe a graça de morrer na Sexta-feira Santa. Ao que a Virgem o consolou, dizendo: Eia, pois, prepara-te; amanhã é Sexta-feira Santa e morrerás, como desejas, indo comigo ao céu. E assim de fato aconteceu. Quando se cantava na igreja a Paixão do Senhor, entrou Joaquim em agonia. E às palavras "Inclinando a cabeça (Jesus) morreu" o Venerável entregou sua alma a Deus. No mesmo instante espalhou-se pela igreja um vivo fulgor e suave fragrância. 

ORAÇÃO

Ó aflitíssima entre todas as mães, morreu, pois Vosso Filho tão amável e que tanto Vos ama. Chorai, que bem razão tendes para chorar. Quem poderia Vos consolar jamais? Só pode dar-Vos algum lenitivo o pensar que Jesus com Sua morte venceu o inferno, abriu aos homens o paraíso, que lhes estava fechado, e fez a conquista de tantas almas. Do trono da cruz Ele reinará sobre tantos corações que, pelo amor vencidos, O servirão com amor.

Dignai-Vos, entretanto, ó minha Mãe, consentir que me conserve a Vossos pés, chorando conVosco, já que eu, pelos meus grandes pecados, tenho mais razão de chorar que Vós. Ah! Mãe de Misericórdia, em primeiro lugar pela morte de meu Redentor, e depois pelo merecimento de Vossas dores, espero o perdão e a salvação eterna. Amém.

(Glórias de Maria por Santo Afonso Maria de Ligório)

Fonte:

Sexta dor - A lançada e a descida da Cruz

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1. Maria saúda as chagas de Jesus, como fontes de nossa salvação

Ó vós que passais pela estrada, atendei e vede, se há dor semelhante à minha dor (Jr 1,12). Almas devotas, escutai o que hoje vos diz a Mãe dolorosa: Filhas diletas, não quero que procureis consolar-Me, porque Meu coração já não pode achar consolação na terra, depois da morte de Meu caro Jesus. Se quereis dar-Me gosto, vinde e vede se houve no mundo dor semelhante à Minha, ao ver como Me arrebataram com tanta crueldade Aquele que era todo o Meu amor. Mas, Senhora, já que não buscais consolo, mas antes sofrimento, eu Vos direi que nem com a morte de Vosso Filho findaram as Vossas dores. Ainda hoje, daqui a pouco, sereis ferida dolorosamente por uma espada. Vereis uma lança cruel transpassar o lado de Vosso Filho, já sem vida. E depois tereis de receber, em Vossos braços, Seu corpo descido da cruz. 

Estamos na sexta dor da pobre Mãe de Jesus. 

Contemplemo-la com atenção e lágrimas de piedade. Até então vieram as dores cruciar Maria, uma a uma. Mas agora assaltaram-nA todas juntas. Basta dizer a uma mãe que seu filho morreu, para toda inflamá-la o amor ao filho que a deixou. Para consolo das mães atribuladas com a perda de algum filho, costumam pessoas recordar-lhes os desgostos que deles receberam. Porém eu, ó minha Rainha, se quisesse consolar-Vos pela morte de Jesus onde acharia algum desgosto dado por Ele, para vo-lo recordar? 

Ah! Ele sempre Vos amara, sempre Vos obedecera e respeitara. Agora O perdestes. Quem há que possa exprimir Vossa aflição? Exprimi-a Vós mesma, que cruelmente a sofrestes!

Morto nosso Redentor, diz um piedoso autor, acompanharam-Lhe a alma santíssima os amorosos afetos da excelsa Mãe, para apresentá-la ao Eterno Pai. Disse talvez o seguinte: "Apresento-Vos, ó meu Deus, a alma imaculada do Meu e Vosso Filho, que Vos obedeceu até a morte; recebei-a em Vossos braços. Eis satisfeita a Vossa justiça e executada a Vossa vontade; eis consumado o grande sacrifício para eterna glória Vossa". Voltando-Se depois para o corpo inanimado de Seu Jesus: "Ó chagas, disse então, chagas amáveis, congratulo-Me convosco, porque por meio de vós foi dada a salvação ao mundoPermanecereis abertas no corpo de Meu Filho, como refúgio de todos quantos recorrem a vós. Quantos por vós hão de receber o perdão de seus pecados e inflamar-se no amor do Sumo Bem! 

2. A dolorosa cena do lanceamento 

Por que não ficasse desfeita a festa do dia seguinte, sábado pascal, exigiram os judeus fosse logo retirado da cruz o corpo do Senhor. Mas como não podiam retirar o sentenciado antes de estar certamente morto, vieram alguns algozes, com pesadas clavas de ferro, e quebraram as pernas aos dois ladrões crucificados. Aproximaram-se também do corpo de Jesus. Enquanto chorava a morte de Seu Filho, vê Maria esses homens armados que se chegam a Jesus. Estremece de terror, mas logo Lhes diz:Ai! Meu Filho já está morto: deixai de ultrajá-lO ainda mais, e de ainda mais Me atormentar o pobre coração de mãe desolada! 

Pediu que não Lhe quebrassem as pernas, observa Boaventura Baduário. Mas enquanto assim falava, ó Deus! vê um soldado erguer com ímpeto a lança e com ela abrir o lado de Jesus. "Um dos soldados lhe abriu (a Jesus) o lado com uma lança, e imediatamente saiu sangue e água" (Jo 19,34). A esse golpe de lança tremeu a cruz e o Coração de Jesus foi dividido, como por revelação o soube S. Brígida. Saiu sangue e água, pois do primeiro restavam apenas essas últimas gotas. Quis o Salvador derramá-las para nos mostrar que já não tinha sangue que nos dar. Foi para Jesus a injúria desse golpe de lança, mas a dor sentiu-a a Virgem Mãe, diz Landspérgio. Querem os Santos Padres que tenha sido propriamente essa a espada predita à Virgem por Simeão. Não foi uma espada de aço, mas de dor que transpassou a Sua alma bendita, no Coração de Jesus onde sempre morava. Entre outros, diz S. Bernardo: A lança, que abriu o lado de Jesus, transpassou a alma da Virgem, que não podia separar-Se do Filho. Ao ser retirada a lança - revelou a Mãe de Deus a S. Brígida - o sangue de Meu Filho tingia-Lhe a ponta; parecia-Me nesse momento que Meu coração estava transpassado, ao ver que o do Meu Filho fora rasgado pelo golpe. E à mesma santa disse o anjo, que só por um milagre escapou Maria de morrer naquela ocasião. Nas outras dores, a Virgem tinha o Filho a seu lado, mas nem semelhante conforto lhe resta agora. 

3. A Mãe dolorosa recebe nos braços o Filho sem vida 

A atribulada Senhora receava, entretanto, que fizessem outras injúrias a Seu amado Filho. Pediu a José de Arimatéia lhe obtivesse, por isso, de Pilatos o corpo de Jesus, para que ao menos depois de morto o pudesse preservar dos ultrajes dos judeus. Foi José ter com Pilatos, expôs-lhe a dor e o desejo da aflita Mãe. Segundo o Pseudo-Anselmo, Pilatos, compadecendo-se da Mãe, Lhe concedeu o corpo do Redentor. Eis que descem o Salvador da cruz em que morrera! Ó Virgem sacrossanta, destes com tanto amor Vosso Filho ao mundo, e vede como Ele vo-lO entrega! Por Deus, exclama a Senhora, em que estado, ó mundo, Me entregas Meu amado Filho! Era Ele o Meu querido, branco e rosado(Ct 5, 10); e tu mO entregas negro pelas contusões e rubro não pela cor, mas pelas chagas de que O cobriste?! Era belo e ei-lO agora desfigurado! Encantava com Seu aspecto, mas causa horror agora a quem O vê! Quantas espadas feriram a alma dessa Mãe quando em Seus braços depuseram o Filho descido da cruz! diz um autor sob o nome de S. Boaventura. Contemplemos o indizível sofrimento de uma mãe à vista do Seu filho sem vida. 

Conforme as revelações de S. Brígida, encostaram três escadas para descerem o corpo de Jesus. Primeiro desprenderam os santos discípulos as mãos, depois os pés e entregaram os cravos a Maria, como refere Metafrastres. 

Segurando o corpo de Jesus, um por cima e outro por baixo, o desceram da cruz. 

Ergue-se a Mãe, relata Bernardino de Busti, estende os braços para o Filho, abraça-O e senta-Se aos pés da cruz. Contempla-Lhe a boca aberta e os olhos obscurecidos; examina Seu corpo rasgado pelas chagas e os ossos descobertos. Tira-Lhe a coroa, e vê que horríveis chagas os espinhos fizeram naquela sagrada cabeça. Olha finalmente as mãos e os pés transpassados pelos cravos e diz: Ah! Filho, a que extremos Vos reduziu Vosso amor pelos homens! Que mal lhes fizeste para que assim Vos maltratassem? Vós me eras pai, irmão e esposo, - fá-lA dizer Bernardino de Busti; eras minha glória, minha delícia e meu tudo. Filho, vê como estou aflita, olha-Me e consola-Me. Mas ai! não Me falas mais, porque estás morto. E dirigindo-Se aos instrumentos de martírio: Ó espinhos cruéis, ó desapiedada lança, como pudestes assim atormentar vosso Criador? Mas por que acuso os espinhos, os cravos? Ah! pecadores, fostes vós que assim maltratastes a Meu Filho! 

4. Queixas de Maria sobre os pecadores 

Assim então Maria Se queixou de nós. E se agora pudesse sofrer, que diria? Que pena sentiria, vendo que os homens, mesmo após a morte de Jesus, continuam a maltratá-lA e crucificá-lA com seus pecados? Nunca mais atormentemos, pois, essa Mãe aflita! Se pelo passado a afligimos com nossas culpas, façamos agora o que Ela nos diz. Mas que é que nos diz? "Tomai isto a sério, vós prevaricadores" (Is 46, 8). Pecadores, voltai ao ferido Coração de Jesus; arrependei-vos, que ele vos acolherá. 

Pelo abade Guerrico, nos diz ainda a Senhora: Fugi de Jesus vosso Juiz, para Jesus, vosso Salvador; fugi do tribunal para a cruz! 

A Santíssima Virgem revelou a S. Brígida que, quando desceram Seu Filho da cruz, Ela Lhe cerrou os olhos, mas não pode fechar os braços. Jesus dava-nos assim a entender que Seus braços hão de ficar sempre abertos para acolher todos os pecadores arrependidos.

Ó mundo, continua Maria, "eis que agora estás no tempo, no tempo de amor" (Ez 16, 18). Meu Filho morreu para salvar-te; já não é para ti um tempo de temor, mas de amor. É tempo de amares Aquele que tanto quis sofrer, para provar quanto te ama. O Coração de Jesus foi ferido, diz S. Boaventura, a fim de nos mostrar pela chaga visível o Seu amor invisível. E alhures o Santo faz Maria dizer: Se Meu Filho quis que Lhe fosse aberto o lado para dar-te Seu coração, é justo que Lhe dês também o teu. 

Se, portanto, quereis, ó filhos de Maria, achar lugar no Coração de Jesus, sem receio de repulsa, ide a ele juntamente com Maria, por quem alcançareis tal graça. Assim nos exorta Hubertino de Casale. 

EXEMPLO 

Na cidade de Casena, viviam dois amigos muito viciados. Um deles, Bartolomeu, apesar da má vida, tinha por costume recitar todos os dias o Stabat Mater. Recitando-o, certa vez, pareceu-lhe que, com um seu amigo, se achava dentro de uma enorme fogueira. Viu então como a Santíssima Virgem lhe estendeu a mão, a Ele, Bartomeu, para o tirar do meio das chamas e dEla recebeu o conselho de pedir perdão a Nosso Senhor. E Jesus mostrou-Se pronto a perdoar por causa da intercessão de Sua Mãe Santíssima. Mal terminara essa visão, quando vieram contar a Bartomeu que seu amigo tinha sido mortos a tiros. Viu assim o pecador que não fora puro sonho o que a imaginação lhe mostrara. Deixou por isso o mundo, e entrou para a Ordem dos Capuchinhos. No convento, levou uma vida austera e penitente, morrendo, por fim, em fama de santidade.

ORAÇÃO

Ó Virgem dolorosa, ó alma grande pelas virtudes e também pelas dores, pois que ambas nascem do grande incêndio do amor que tendes a Deus, o único objeto amado por Vosso coração. Ah! minha Mãe, tende piedade de mim, que não tenho amado a Deus e tanto O tenho ofendido. Vossas dores me enchem de grande confiança, e me fazem esperar o perdão. Mas isso não me basta; quero amar a meu Senhor. E quem me pode alcançar essa graça melhor que Vós, que sois a Mãe do belo amor? Ah! Maria, a todos consolastes; consolai também a mim. Amém.

(Glória de Maria por Santo Afonso Maria de Ligório)

Fonte:
http://vashonorabile.blogspot.com.br/

Sétima dor - Sepultura de Jesus

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1. Queixa da Mãe dolorosa 

Uma mãe, que se acha presente aos sofrimentos e à morte do filho, sente e sofre incontestavelmente todas as suas dores. Mas depois, quando o vê morto e prestes a ser sepultado, oh! então, o pensamento de deixá-lo, para nunca mais tornar a vê-lo, causa-lhe uma dor que excede todas as outras dores. Eis a sétima e última espada de dor que hoje vamos meditar. A Mãe Santíssima vira o Filho morrer na cruz, recebera-O depois de morto, e agora vê-Se obrigada a deixá-lO finalmente no sepulcro, para não mais gozar de Sua amável presença. Compreenderemos melhor esta última dor da Senhora, se subirmos ao Calvário e aí contemplarmos a desolada Mãe, ainda abraçada com o Filho morto. Então bem podia repetir com Jó: Meu Filho, mudastes-vos em cruel comigo (Jó 30, 21). Todas as Vossas belas prendas, Vossa beleza, Vossa graça, Vossas virtudes, Vossas amáveis maneiras: todos os Vossos testemunhos de especial amor, todos os singulares favores que Me dispensastes, - tudo, em outras tantas penas, se Me tem mudado. Quanto mais Vossos benefícios em Vosso amor me inflamaram, tanto mais agravam agora a perda Vossa. Ah! Filho dileto, tudo perdi em Vos perdendo! Ó verdadeiro Filho de Deus, - assim a faz queixar-se Bernardino de Busti com Pseudo-Bernardo - Vós me éreis pai, filho e esposo e vida; agora estou sem pai, sem esposo, sem filho; perdi tudo, numa palavra. 

2. Maria acompanha Jesus à sepultura 

Deste modo expandia a Mãe a Sua dor, abraçada ao Filho sem vida. Mas os santos discípulos receavam Lhes expirasse de dor a pobre Mãe, e por isso se apressam em tirar-Lhe do regaço o Filho sem vida. Fazendo-Lhe, pois, respeitosa violência, tiram-lhO dos braços, O embalsamam com aromas, envolvem-nO numa mortalha, preparada de propósito para Ele. Nela quis o Senhor deixar impressa Sua imagem, como hoje ainda se vê em Turim. 

Levam o Sagrado Corpo à sepultura. Forma-se o cortejo fúnebre e os discípulos acompanham-no, juntamente com as santas mulheres. Entre as últimas, caminha a Mãe dolorosa, levando também Ela o Filho à sepultura. Ter-se-ia a Senhora de boa mente sepultado viva com o Filho, como reza uma Sua revelação a S. Brígida. Mas, esta não sendo a divina vontade, acompanhou resignada o sacrossanto corpo de Jesus ao sepulcro, no qual, como refere Barônio, depositaram também os cravos e a coroa de espinhos. No momento de fechá-lo com a pedra, voltaram-se os discípulos para Maria com as palavras:Eia, Senhora, vai ser fechado o túmulo. Ânimo! contemplai Vosso Filho pela última vez e dai-Lhe um derradeiro adeus! Assim, pois, ó dileto Filho, - teria então dito talvez a Senhora, - assim, pois, não mais Vos tornarei a ver? Recebe com Meu último olhar o último adeus de Vossa aflita Mãe; recebe Meu coração, que deixo conVosco no sepulcro! - Era-lhe ardente o desejo de sepultar também sua alma com o Filho, observa Vulgato Fulgêncio. A pobre Virgem assim falou a S. Brígida: Na sepultura de Meu Filho estavam sepultados dois corações. - Finalmente, os discípulos tomaram a pedra e fecharam no túmulo o corpo de Jesus, aquele tesouro que não tem igual nem no céu nem na terra. 

Intercalemos aqui uma digressão. Maria deixa Seu coração sepultado com Jesus, porque Lhe é Jesus o único tesouro. "Porque onde está o vosso tesouro, aí está também o vosso coração" (Lc 12,34). E nós onde sepultaremos o nosso? Nas criaturas, talvez? no desprezível pó? Por que não em Jesus? Ainda que haja subido ao céu, quis entretanto permanecer no meio de nós no Sacramento, justamente para possuir e guardar nossos corações. Voltemos, porém, a Maria. Antes de se afastar do sepulcro, bendisse aquela pedra sagrada, como refere Boaventura Baduário: "Ó pedra feliz, que agora encerras Aquele que tive nove meses no seio, eu te bendigo e invejo. Deixo-te guardando este Meu Filho que é todo o Meu bem, todo o Meu amor". E dirigindo-Se ao Pai Eterno, rezou: Meu Pai, a Vós encomendo este Filho, que e Vosso e Meu

3. Maria despede-Se da sepultura do Filho 

Tais foram as despedidas de Maria junto ao sepulcro do Filho, de onde depois voltou a casa. Triste e aflita ia a pobre Mãe, diz Pseudo-Bernardo, despertando lágrimas em quantos A viam passar. Acrescenta também que os santos discípulos e as santas mulheres choravam mais por causa de Maria do que sobre a perda do Mestre. Quer Boaventura Baduário que as parentas de Maria a tenham velado com um lúgubre manto. Na volta - diz ele - passou a Virgem pela cruz, banhada ainda com o sangue de Seu Jesus. Foi a primeira a adorá-la com as palavras: O Cruz, eu te beijo e te adoro; agora não és mais um madeiro infame, mas o trono do amor e o altar da misericórdia, consagrado com o sangue do divino Cordeiro, sacrificado em teus braços pela salvação do mundo. 

Assim se despede da cruz e volta para casa. Aí olha em torno de Si e não vê mais o Seu Jesus. Em vez da presença de Seu querido Filho, surgem-Lhe à memória todos os quadros de Sua desapiedada morte. Recorda os abraços dados ao Filho no presépio de Belém, os colóquios durante tantos anos, os mútuos afetos, os olhares cheios de amor, e as palavras de vida eterna saídas daqueles lábios divinos. Então se Lhe apresenta ante os olhos a cena funesta daquele dia: vê os cravos, os espinhos, as carnes dilaceradas do Filho, Suas chagas tão profundas, Seus ossos tão descarnados, Sua boca assim aberta, Seus olhos assim apagados.

Ai! que noite de dores foi aquela para a Mãe de Deus! Dirigia-Se a S. João e lhe perguntava cheia de tristeza: João, onde está o teu Mestre? Perguntava depois a Madalena: Filha, dize-Me, onde está o teu dileto? Quem no-lo arrebatou? - Em prantos Se expandiam a Senhora e os que A rodeavam. E tu, minha alma, não choras? Dirige-te à Virgem Dolorosa e pede-Lhe lágrimas, como S. Boaventura: Deixa-me chorar, ó Senhora, porque sou eu o culpado e Vós sois inocente! Pede-Lhe admita que chores com Ela: Deixa que eu chore conVosco. Ela chora de amor; chora tu de dor por teus pecados. E poderás assim ter a felicidade daquele de quem se trata no seguinte exemplo. 

EXEMPLO 

Conta o Padre Engelgrave que havia certo religioso tão atormentado pelos escrúpulos, que às vezes quase se entregava ao desespero. Mas como era devotíssimo de Nossa Senhora das Dores, recorria sempre a Ela em suas angústias espirituais, e, contemplando Suas dores, se sentia confortado. Na hora de sua morte, perseguiu-o o demônio mais que nunca com os escrúpulos, induzindo-o à desesperação. Mas a piedosa Mãe, vendo Seu pobre filho tão angustiado, apareceu-lhe e disse-lhe: Filho meu, por que tanto temes e te entristeces, tu que tantas vezes Me consolaste, compadecendo-te de Minhas dores? Ânimo! Mandou-Me Jesus a consolar-te. Anda, consola-te, enche-te de alegria e vem Comigo para o céu. A essas palavras, o devoto religioso, cheio de consolação e de confiança, expirou placidamente. 

ORAÇÃO

Ó minha Mãe dolorosa, não Vos quero deixar chorando sozinha. Quero acompanhar-Vos com minhas lágrimas. Esta graça hoje Vos peço: obtende-me uma contínua memória com uma terna devoção à Paixão de Jesus e à Vossa, para que os dias que me restam de vida me não sirvam senão para chorar Vossas dores, ó minha Mãe, e as de meu Redentor. Essas Vossas dores, espero eu, na hora de minha morte, me hão de dar coragem, força e confiança para não desesperar à vista do muito que ofendi ao meu Senhor. E elas me hão de impetrar o perdão, a perseverança e o paraíso, onde espero depois alegrar-me conVosco, e cantar as misericórdias infinitas de meu Deus, por toda a eternidade. Assim o espero, assim seja. Amém. 


Ó minha Senhora, Vós roubais os corações dos homens pela Vossa suavidade. Pois então já não roubastes o meu? Ó arrebatadora dos corações, quando me restituireis o meu? Não; guardai-o conVosco e colocai-o, juntamente com o Vosso, no lado aberto de Vosso Filho. Tenho assim o que desejo, já que sois Vós a minha esperança. 

(Glórias de Maria por Santo Afonso Maria de Ligório)

Fonte:
http://vashonorabile.blogspot.com.br/

A Tristeza

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ange-tristeA tristeza que é segundo Deus, diz São Paulo, produz para a salvação uma penitência estável, mas a tristeza do século produz a morte.
A tristeza pode, pois, ser boa ou má, conforme os diversos efeitos que em nós opera; mas em geral, ela opera mais maus do que bons porque os bons são só dois: a misericórdia e a penitência; e os maus são seis: o medo, a indignação, o ciúme, a inveja, a impaciência e a morte.; pelo que diz o sábio: a tristeza mata a muitos e a ninguém aproveita.
O inimigo serve-se da tristeza para tentar os bons até em suas boas obras, como se esforça para levar os maus a se alegrarem de suas más ações; e como ela não pode nos seduzir ao mal senão fazendo-o parecer agradável, assim também não nos pode apartar do bem senão fazendo-o parecer incômodo. Pode-se dizer que, sendo ele mesmo acabrunhado duma tristeza desesperadora por toda a eternidade, quer que todos os homens sejam tristes como ele.
A má tristeza perturba a alma, inquieta-a, inspira temores desregrados, tira o gosto da oração, traz ao espírito uma sonolência de morte, impede-a de tirar proveito dos bons conselhos, de tomar resoluções e de ter o ânimo e a força de fazer qualquer coisa. Numa palavra ela produz nas almas as mesmas impressões que o frio excessivo nos corpos, que se tornam hirtos e incapazes de se mover.
Se fores algum dia, Filotéia, acabrunhada por essa má tristeza , lembra-te destas regras: Se alguém de vós está triste, diz S. Tiago, pois que ele reze.E, com efeito, a oração é um remédio salutar contra a tristeza, porque eleva nosso espírito a Deus, que é nossa alegria e consolação.
Emprega em tuas orações estas palavras e afetos que inspiram maior confiança em Deus e seu amor: Ó Deus de misericórdia! Ó Deus infinitamente bom! Meu benigníssimo Salvador! Ó Deus do meu coração, minha alegria e minha esperança! Ó caro esposo de minha alma! Ó Dileto do meu coração!
Combate animosamente qualquer inclinação que tenhas para a  tristeza e, embora te pareça que combates fria e negligentemente, não o deixes de fazer; porque o inimigo , que nos quer dar essa indiferença e tibieza para as boas obras, cessará de nos afligir, vendo que, sendo elas feitas com repugnância, tem tanto mais valor!
Consola-te com algum canto espiritual; muitas vezes eles tem servido para interromper o curso das operações do espírito maligno; siga de exemplo Saul, a quem Davi, com suaves acordes de sua harpa, livrou o demônio que o assediava e possuía.
Será bom ocupar-se com alguma ocupação exterior e variar de ocupações, seja para subtrair a alma aos objetos que a entristecem, seja para purificar e aquecer o sangue e os humores; porque a tristeza é uma paixão de natureza fria e seca.
Faça algumas ações de fervor , mesmo sem gosto algum, tomando nas mãos o crucifixo, apertando-o ao peito, beijando as mãos e os pés do Salvador, levantando os olhos e as mãos ao céu, elevando a voz a Deus, com palavras de amor e confiança, como as seguintes: Meu amado é meu e eu sou Dele. Meu amado é um ramalhete de mirra em meu coração. Meus olhos desfalecem de atentos a tua palavra , ó meu Deus dizendo: Quando me consolarás?
Ó Jesus, sede meu, Jesus. Viva Jesus e minha alma viverá. Quem me separará do amor do meu Deus?
O uso moderado da disciplina é um bom meio contra a tristeza, porque este sofrimento exterior traz ordinariamente a consolação interior, e a lama sentindo alguma dor externa, presta menos atenção nas internas. Mas o melhor de tudo é a comunhão freqüente, porque este pão celeste fortifica e alegra o espírito.
Narra a teu diretor com humilde sinceridade a tua tristeza e todos teu afetos e mais sugestões que daí provenham e procura falar tanto quanto puderes com pessoas espirituais. Enfim, resigna-te a vontade de Deus, preparando-te a sofrer com paciência essa tristeza enfadonha como um justo castigo de tuas vãs alegrias e não duvides que Deus, depois de ter provado seu coração, te venha em auxilio!
Filotéia – São Francisco de Sales
Fonte:

Natureza da Devoção

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rp_praying-the-rosary-724621.jpgAspiras à devoção, Filotéia, porque a fé te ensina ser esta uma virtude sumamente agradável à Majestade divina. Mas como os pequenos erros em que se cai ao iniciar uma empresa vão crescendo à medida que se progride e ao fim já se avultam de um modo quase irremediável, torna-se absoluta-mente necessário que antes de tudo procuremos saber o que seja a devoção.
Existe, pois, uma só devoção verdadeira e existem muitas que são vãs e falsas. É mister que saiba discernir uma das outras, para que não te deixes enganar e não te dês a exercícios de uma devoção tola e supersticiosa.
Um pintor por nome Aurélio, ao debuxar seus painéis, costumava desenhar neles aquelas mulheres a quem consagrava estima e apreço. É este um emblema de como cada um se afigura e traça a devoção, empregando as cores que sugerem as suas paixões e inclinações. Quem é dado ao jejum tem-se na conta de um homem devoto, quando é assíduo em jejuar, embora fomente em seu coração um ódio oculto; e, ao passo que não ousa umedecer a boca com umas gotas de vinho ou mesmo com um pouco de água, receoso de não observar a virtude da temperança, não se faz escrúpulos de sorver em largos haustos tudo o que lhe ensinam a murmuração e a calúnia, insaciável do sangue do próximo. Uma mulher que recita diariamente um acervo de orações se considerará devota, por causa desses exercícios, ainda que, fora deles, tanto em casa como alhures, desmande a língua em palavras coléricas, arrogantes e injuriosas. Este alarga cordões da bolsa pela sua consideração com os pobres, mas cerra o coração ao amor ao próximo, a quem não quer perdoar. Aquele perdoa ao inimigo, mas satisfazer as dívidas é o que não faz sem ser obrigado à força. Todas estas pessoas têm-se por muito devotas e são talvez tidas no mundo como tais, conquanto realmente de modo algum o sejam.
Indo os soldados de Saul à casa de Davi, para, prende-lo, entreteve-os em conversa Micol, sua esposa, para ocultar-lhes a sua fuga; mandou meter num leito uma estátua coberta com as roupas de Davi e com a cabeça envolta em pelos. Feito isso,disse aos soldados que o esposo estava enfermo e que presentemente estava dormindo. É esse o erro que muitos que aparentam um exterior muito devoto e são tidos por homens realmente espirituais, mas que, na verdade, não passam de uns fantasmas de devoção.
A verdadeira devoção, Filotéia, pressupõe o amor de Deus, ou, melhor, ela mesma é o mais perfeito amor a Deus. Esse amor chama-se graça, porque adereça a nossa alma e a torna bela aos olhos de Deus. Se nos dá força e vigor para praticar o bem, assume o nome de caridade. E, se nos faz praticar o bem freqüente, pronta e cuidadosamente, chama-se devoção e atinge então ao maior grau de per-feição. Vou esclarecê-lo com uma explicação tão simples quão natural.
Os avestruzes têm asas, mas nunca se elevam acima da terra. As galinhas voam, mas têm um vôo pesado e o levantam raras vezes e a pouca altura. O vôo das águias, das pombas, das andorinhas é veloz e alto e quase contínuo. De modo semelhante, os pecadores são homens terrenos e vão se arrastando contínuo à flor da terra. Os justos são ainda imperfeitos, elevam-se para o céu pelas obras, mas fazem-no lenta e raramente, com uma espécie de peso no coração.
São só as almas possuidoras de uma devoção sólida que, à semelhança das águias e das pombas, se exalçam a Deus por um vôo vivo, sublime e por assim dizer, incansável. Numa palavra, a devoção não é nada mais do que uma agilidade e viveza espiritual, da qual ou a caridade opera em nós, ou nós mesmos, levados pela caridade, operamos todo o bem de que somos capazes.
A caridade nos faz observar todos os mandamentos de Deus sem exceção, e a devoção faz com que os observemos com toda diligência e fervor possíveis. Todo aquele, portanto, que não cumpre os mandamentos de Deus que não é justo e, muito menos, devoto; para ser justo, é necessário que se tenha caridade e, para se ser devoto, é necessário ainda por cima que se pratique com um fervor vivo e pronto todo o bem que se pode.
E como a devoção consiste essencialmente num amor acendrado, ela nos impele e incita não somente a observar os mandamentos da lei de Deus, pronta, ativa e diligentemente, mas também a praticar as boas obras, que são apenas conselhos ou inspirações particulares. Um homem ainda convalescente duma enfermidade anda com um passo lento e só por necessidade: assim um pecador recém-convertido vai caminhando na senda da salvação devagar e arfando, só mesmo pela necessidade de obedecer aos mandamentos de Deus, até que se manifeste nele o espírito da piedade. Então, sim; como um homem sadio e robusto, caminha, não só com alegria, como também envereda corajosamente pelos caminhos que parecem intransitáveis aos outros homens, para onde quer que a voz de Deus o chame, já pelos conselhos evangélicos, já pelas inspirações da graça. Por fim a caridade e a devoção não diferem mais entre si do que o fogo da chama; a caridade é o fogo espiritual da alma, o qual, quando se levanta em labaredas, tem o nome de devoção, de sorte que a devoção nada acrescenta, por assim dizer, ao fogo da caridade se mostra pronta, ativa e diligente na observância dos mandamentos de Deus e na prática dos conselhos e inspirações celestes.
 Fonte: Filotéia
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Não se deve fazer caso do que dizem os Mundanos

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rp_palavrao.jpgAssim que a tua devoção se for tornando conhecida no mundo, maledicências e adulações te causarão sérias dificuldades de praticá-la. Os libertinos tomarão a tua mudança por um artifício de hipocrisia e dirão que alguma desilusão sofrida no mundo te levou por pirraça a recorrer a Deus.
Os teus amigos, por sua vez, se apressarão a te dar avisos que supõem ser caridosos e prudentes sobre a melancolia da devoção, sobre a perda do teu bom nome no mundo, sobre o estado de tua saúde, sobre o incômodo que causas aos outros, sobre a necessidade de viver no mundo conformando-se aos outros e, sobretudo, sobre os meios que temos para salvar-nos sem tantos mistérios.
Filotéia, tudo isso são loucas e vãs palavras do mundo e, na verdade, essas pessoas não têm um cuidado verdadeiro de teus negócios e de tua saúde: Se vós fôsseis do mundo, diz Nosso Senhor, amaria o mundo o que era seu; mas, como não sois do mundo, por isso ele vos aborrece.
Vêem-se homens e mulheres passarem noites inteiras no jogo; e haverá uma ocupação mais triste e insípida do que esta? Entretanto, seus amigos se calam; mas, se destinamos uma hora à meditação ou se nos levantamos mais cedo, para nos prepararmos para a santa comunhão, mandam logo chamar o médico, para que nos cure desta melancolia e tristeza. Podem-se passar trinta noites a dançar, que ninguém se queixa; mas por levantar-se na noite de Natal para a Missa do Galo, começa-se logo a tossir e a queixar de dor de cabeça no dia seguinte.
Quem não vê que o mundo é um juiz iníquo, favorável aos seus filhos, mas intransigente e severo para os filhos de Deus?
Só nos pervertendo com o mundo, poderíamos viver em paz com ele, e impossível é contentar os seus caprichos ― Veio João Batista, diz o divino Salvador, o qual não comia pão nem bebia vinho, e dizeis: Ele está possesso do demônio. Veio o Filho do Homem, come e bebe, e dizeis que é um samaritano.
É verdade, Filotéia, se condescenderes com o mundo e jogares e dançares, ele se escandalizará de ti; e, se não o fizeres, serás acusada de hipocrisia e melancolia, se te vestires bem, ele te levará isso a mal, e, se te negligenciares, ele chamará isso baixeza de coração. A tua alegria terá ele por dissolução e a tua mortificação por ânimo carrancudo; e, olhando-te sempre com maus olhos, jamais lhe poderás agradar.
As nossas imperfeições ele considera pecados, os nossos pecados veniais ele julga mortais, e malícias, as nossas enfermidades; de sorte que, assim como a caridade, na expressão de S. Paulo, é benigna, o mundo é maligno.
A caridade nunca pensa mal de ninguém e o mundo o pensa sempre de toda sorte de pessoas; e, não podendo acusar as nossas ações, condena ao menos as nossas intenções. Enfim, tenham os carneiros chifres ou não, sejam pretos ou brancos, o lobo sempre os há de tragar, se puder.
Procedamos como quisermos, o mundo sempre nos fará guerra. Se nos demorarmos um pouco mais no confessionário, perguntará o que temos tanto que dizer; e, se saímos depressa, comentará que não contamos tudo. Espreitará todas as nossas ações e, por uma palavra um pouco menos branda, dirá que somos insuportáveis. Chamará avareza o cuidado por nossos negócio, e idiotismo a nossa mansidão. Mas, quanto aos filhos do século, sua cólera é generosidade; sua avareza, sábia economia; e suas maneiras livres, honesto passatempo. É bem verdade que as aranhas sempre estragam o trabalho das abelhas!
Abandonemos este mundo cego, Fiolotéia; grite ele quanto quiser, como uma coruja, para inquietar os passarinhos do dia. Sejamos firmes em nossos propósitos, invariáveis em nossas resoluções e a constância mostrará que a nossa devoção é séria e sincera. Os cometas e os planetas parecem ter o mesmo brilho; mas os cometas, que são corpos passageiros, desaparecem em breve, ao passo que os planetas brilham continuamente. Do mesmo modo muito se parece a hipocrisia com a virtude sólida e só se distingue porque aquela não tem constância e se dissipa como a fumaça, ao passo que esta é firme e constante.
Demais, para assegurar os começos de nossa devoção, é muito bom sofrer desprezos e censuras injustas por sua causa; deste modo nós nos premunimos contra a vaidade e o orgulho, que são como as parteiras do Egito, às quais o infernal Faraó mandou matar os filhos varões dos judeus no mesmo dia de seu nascimento. Enfim, nós estamos crucificados para o mundo e o mundo deve ser crucificado para nós. Ele nos toma por loucos; consideremo-lo como um insensato. 
São Franciso de Sales - Filotéia ou Introdução à Vida Devota – pag. 295-298.
Fonte:

Abaixo-assinado contra o evento M.I.S.S.A em Ipatinga.

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Acontecerá em Ipatinga no próximo final de semana um evento profano que ofende a Fé Católica. Os realizadores nomeia o evento com a palavra M.I.S.S.A e utilizam, em tom de brincadeiras, alguns símbolos católicos.

Estamos nos movimentando com um abaixo-assinado à fim requerer do Ministério Público Estadual o impedimento do evento.

Ajudem-nos assinando-o virtualmente:


Salve Maria!

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O desânimo, essa terrível arma do inimigo

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O DESÂNIMO, PRIMO-IRMÃO do sétimo pecado-capital, a preguiça (ou acídia), é a tentação mais perigosa que o inimigo das almas possa usar contra cada um de nós. Nas outras tentações, ele só ataca uma virtude em particular, e mostra-se: vemos claramente qual é o perigo, e onde está. Podemos cair, por fraqueza, numa tentação específica, mas raramente por ignorância ou confusão. No caso do desânimo, ao contrário, todas as virtudes são ameaçadas, porque nos tornamos incapazes para fazer o que é certo. Pior: não conseguimos distingui-lo. É uma ameaça mortal e invisível.

Na maioria das tentações desta vida, vê-se sem grandes dificuldades o perigo; na religião, não raro na própria razão, achamos sentimentos que as condenam: a consciência, alidada aos princípios da educação cristã, servem de apoio seguro para nos sustentarmos no Caminho. No desânimo, porém, não achamos socorro; sentimos que a razão não basta para praticar todo o bem que Deus pede; por outro lado, falha ou parece falhar a nossa Comunhão com Deus: assim é que falha a esperança de encontrar junto a Deus a proteção para resistir às paixões. Súbito, encontramo-nos sem coragem, prontos para abandonar tudo; é exatamente até aí que o demônio quer conduzir a alma desanimada. Cuidado!

Ao contrário das outras tentações, o desânimo disfarça-se sob mil formas, e acreditamos ter razões para nos deixarmos guiar por esse sentimento, que não percebemos como tentação. Nesses momentos consideramos impossível a prática constante das virtudes, e nossa alma torna-se exposta a se deixar vencer por todas as paixões. Trata-se de uma perigosíssima cilada. O efeito mais funesto do desânimo é que a alma que nele cai não o considera uma tentação: a esperança e a confiança em Deus são tão afetadas quanto a fé e as outras virtudes.


O perigo do temor excessivo

O que faz o grande mal de uma alma desanimada é a ilusão do temor excessivo, que lhe disfarça os verdadeiros e salutares princípios. É assim que, abatida pela vista das dificuldades, contra as quais não acha em si mesma recurso algum, não considera esse estado como uma tentação. Se o encarasse sob este ponto de vista, desconfiaria das razões que o alimentam e, assim, sairia dele bem mais cedo e mais facilmente.

O temor excessivo consiste num zelo exagerado, no anseio irreal por uma perfeição idealizada, pela busca de uma conduta de "santidade" que está além das capacidades reais do indivíduo. Por tal objetivo ser inalcançável, o fiel vai fatalmente se frustrar, decepcionar-se consigo mesmo, uma vez após outra, de novo e de novo... Depois de certo tempo vivendo essa cruel e ingrata rotina, mais dia menos dia acaba caindo no terrível desânimo, e correndo greve risco de perder a fé. A esse respeito falou o santo Padre Pio:
"O medo excessivo faz agir sem amor; a confiança excessiva não deixa considerar o perigo." (Sto. Padre Pio de Pietrelcina)

Sim, o medo excessivo nos afasta do Amor, como diz ainda mais claramente o Discípulo Amado, nas Sagradas Escrituras:
"No Amor não há medo. Antes, o perfeito Amor lança fora o medo, porque o medo envolve castigo, e quem teme não chegou à perfeição no Amor."1
(1 Jo 4,18)

Ora, se o medo afasta do Amor, e de fato lhe é praticamente contrário, – e sendo o Amor verdadeiramente a essência do Primeiro e do Segundo Mandamentos, – claro está que o medo deve ser afastado, combatido, destruído, banido de nossas almas.

O desânimo, portanto, – muitas vezes derivado do medo, – é uma tentação bem definida, porquanto todo sentimento que é oposto à Lei de Deus, seja em si mesmo ou pelas consequências que pode ter, é uma tentação. Se nos vem um pensamento contra a Fé, um sentimento contra a Caridade ou contra alguma outra virtude, consideramo-lo uma tentação, desviamo-nos dele, e aplicamo-nos a produzir atos opostos a esse pensamento, a esse sentimento que nos põe em perigo de ofender a Deus.

Ora, a Esperança e a confiança em Deus são tão fundamentais quanto a Fé e as outras virtudes. O sentimento que vai contra a Esperança deve, pois, ser tão evitado quanto o que vai contra a Fé ou contra qualquer outra virtude: é, pois, uma tentação bem caracterizada. A Lei Divina prescreve-nos praticar Atos de Fé, de Esperança e de Caridade: proíbe, por isso mesmo, todo ato, todo sentimento refletido contrário a essas virtudes tão preciosas e tão saudáveis à alma. Deve-se, pois, considerar o desânimo como uma tentação, e uma das mais perigosas, visto que expõe a alma cristã a abandonar toda obra de piedade.

Para que o fiel católico possa se tornar sensível a esse grande perigo, basta examinar a conduta dos seres humanos na dimensão temporal: a esperança de ser bem sucedido, de se proporcionar, a si mesmo ou aos seus queridos, algum bem, de evitar um revés, – numa palavra, de satisfazer algum desejo ou alguma paixão, – é que os faz agir, é que os sustenta nas dificuldades e dores que têm de suportar; é o que os anima nos obstáculos que têm a vencer. Tirar-lhes toda esperança é logo fazer-lhes cair na inação. Só um homem em delírio poderia lutar por um objetivo o qual não tem esperança de alcançar. Pois o mesmo efeito o desânimo produz na prática das virtudes; funda-se no mesmo princípio, a falta dos meios para chegar ao fim que nos propomos.

A alma cristã que não tem esperança de vencer-se a si mesma, na prática de alguma virtude, nada ou quase nada empreende para se fortalecer. Os esforços insuficientes que faz aumentam-lhe a fraqueza; e, mais do que meio vencida pelo seu desânimo, deixa-se facilmente arrastar às paixões que a dominam: "Já que não alcanço a perfeição que almejo", raciocina, "melhor desistir de vez, pois estou perseguindo um objetivo inalcançável". A visão da própria fraqueza lança-a primeiramente na confusão, na perturbação. Neste estado, estafada da dificuldade que sente em combater, já não vê os princípios que devem guiá-la. O temor de não ser bem sucedida impede-a de enxergar os meios que deve adotar para vencer, e que Deus lhe apresenta: entrega-se, assim, ao inimigo, sem defesa.

Tal alma, assim desanimada, esquece-se de que tem um Socorro poderoso na Bondade do Pai mais amoroso; esquece-se de que lhe bastaria reclamar esse socorro para sair vitoriosa do combate! É como um jovem frágil a quem a vista de um gigante que avança contra ele o faz tremer, e que não pensa que uma pedra basta para derrubar o mais terrível dos gigantes, se ele se servir dessa pedra em Nome do Senhor, Jesus Cristo.

Força, pois, cristãos! Avante, que a luta nos aguarda, o inimigo é terrível mas nosso Aliado é imbatível! À luta, com força e fé, em nome do Cristo, Nosso Senhor Jesus! 


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1. Algumas traduções desta passagem adotam a palavra "temor" no lugar de "medo", subentendida a essencial diferença entre temor com sentido de medo irracional e o "temor a Deus" bíblico, que tem sentido de profundo respeito e reverência ao Criador Todo-Poderoso.

Referência e fonte bibliográfica:
MICHEL, J. Padre. Tratado do Desânimo nas Vias de Piedade. Rio de Janeiro: Vozes, 1952A

Fonte:
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